Quando pensamos nas funções do cérebro humano, uma das
primeiras associações que fazemos é com a sua capacidade de realizar atividades
intelectuais. Porém, as funções do órgão vão muito além disso, uma vez que
estão relacionadas com todo o funcionamento fisiológico do corpo humano.
Partindo desse princípio, pesquisadores vêm utilizando a técnica de
neuromodulação para tratar doenças como estresse, ansiedade e depressão. Essa é
uma das frentes de atuação do grupo de pesquisa vinculado ao setor
Neurofuncional da Clínica de Fisioterapia da UNIFAL-MG.
Recentemente, um equipamento de Estimulação Magnética
Transcraniana, também conhecido por TMS, foi adquirido para o Ambulatório de
Neuromodulação Não Invasiva. O modelo Neuro-MSX, estimado em R$ 300 mil será o
primeiro a ser oferecido a pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS), no Sul de
Minas, com tecnologia para tratar diferentes condições neurológicas.
“O equipamento de estimulação magnética central e
neuromuscular é um avanço para o Sul de Minas, porque consegue tratar uma gama
de patologias que a Fisioterapia em si não trata”, conta o fisioterapeuta
Marcelo Lourenço da Silva, professor e pesquisador do Instituto de Ciências da
Motricidade (ICM), responsável pelo ambulatório em parceria com a professora
Josie Resende Torres da Silva.
Conforme Prof. Marcelo Silva, o aparelho é o 3º adquirido
no estado de Minas e permitirá expandir os atendimentos fisioterapêuticos da
Universidade para a população em geral, oferecendo um serviço diferenciado.
“Para situações de estresse e depressão, que não é um aspecto direto da
Fisioterapia, o avanço é ainda maior, porque aqui vamos fazer os atendimentos
da população via SUS e uma sessão de 20 minutos no particular custa R$ 300,00 e
isso tem protocolos, como por exemplo, para depressão são 10 sessões”, detalha,
informando que em média o tipo de tratamento completo para depressão com o
aparelho custa R$ 3.000,00 em clínicas particulares.
O TMS tem capacidade de estimular ou inibir áreas
específicas do cérebro conforme a doença apresentada pelo paciente. “Esse
equipamento consegue fazer estimulações de áreas que estão inibidas ou de áreas
que estão hiperativadas, então, por exemplo, em situações de depressão, você tem
a inibição de áreas cerebrais e você coloca o equipamento para estimulá-las. Da
mesma forma, em situações de ansiedade, você tem áreas que estão hiperexcitadas
e aí você usa o aparelho para diminuir”, exemplifica.
Para funcionamento, o aparelho é equipado com bobinas de
estimulação (espirais de cobre), envoltas em molde plástico com resfriamento
para prevenir aquecimento durante a estimulação. Outros circuitos eletrônicos
também compõem o equipamento, tais como sensores de temperatura e interruptor
de segurança. O paciente é então orientado a se sentar em uma poltrona e a sua
área motora é mapeada pelo equipamento.
Além do sistema nervoso central, o estímulo pode ser
usado em outras partes do corpo, conforme explica a professora Josie Silva,
certificada para manuseio do equipamento.
“Perifericamente pode ser feito na coluna, no assoalho pélvico e também
nos músculos”, conta, acrescentando que ela ficará responsável pela aplicação e
monitoramento central e o professor Marcelo Silva, pela região periférica.
Aplicações para terapia e diagnósticos
Nos dias 29 e 30/06, os pesquisadores responsáveis pelo
Ambulatório de Neuromodulação Não Invasiva participaram de um treinamento para
manuseio do aparelho de Estimulação Magnética Transcraniana, com o médico
neurologista Edrin Vicente, representante da empresa Kandel Equipamentos
Médicos e Suprimentos, responsável pela instalação.
Ao comentar os avanços tecnológicos para a área de
neuromodelação, o médico explicou de que forma o aparelho TMS atua no
organismo. “Através de indução de correntes elétricas, a gente espera regular
atividade em áreas do sistema nervoso central e também ajudar o condicionamento
em estimulação periférica e em reabilitação neuromuscular”, esclareceu.
Segundo Edrin Vicente, o desafio tecnológico para
estimular o sistema nervoso central está em propiciar uma ferramenta que possa
ser focal e profunda, além de ter potência e capacidade para codificar
diferentes sentidos de modulação biológica por meio dos padrões de estímulos.
“Esse conjunto que a Universidade de Alfenas adquiriu é
um conjunto bem completo com dois modelos diferentes de bobina que vai permitir
ter uma gama de aplicações tanto na terapêutica quanto na investigação
diagnóstica de medidas neurofisiológicas, que vão ser uma ferramenta ótima para
pesquisa e também para os cuidados clínicos de pacientes com outras condições
psiquiátricas e neurológicas”, afirmou.
O médico estima que tenha atualmente no Brasil de 500 a
600 aparelhos desse modelo, mas boa parte deles em clínicas privadas de psiquiatria.
“É um método que apesar de já estar bem estabelecido pela ciência, o ritmo de
divulgação de tecnologias novas na prática clínica é bem lento. Então em
centros de pesquisa, talvez tenha menos de 30 aparelhos com foco específico
nessa área de neuromodulação. É uma área que tem muito espaço para crescer”,
completou.
A previsão é que os atendimentos aos pacientes do SUS por
meio do equipamento de Estimulação Magnética Transcraniana iniciem no 2º
semestre de 2022. Mais detalhes sobre o fluxo de agendamento serão divulgados
em breve.