O delegado Guilherme Iusten, responsável pela investigação do acidente na serra da Barriga, em União dos Palmares (AL), que deixou 18 pessoas mortas no domingo (24), afirmou que testemunhas relataram que houve uma falha no freio momentos antes de o coletivo cair na ribanceira. Inicialmente, bombeiros disseram que a altura da queda seria de 85 metros, mas a Secretaria de Segurança Pública de Alagoas atualizou a medida para 112 metros nesta segunda-feira (25). Em entrevista pela manhã, Iusten destacou que documentos preliminares do veículo apontam que ele tinha plenas condições de funcionamento.
"O ônibus estava novo, com manutenção em dia, pneus em boas condições. O ônibus tinha condições de uso. Agora, aguardamos laudo pericial", disse o delegado. O governador Paulo Dantas (MDB), que também participou da entrevista, lamentou a tragédia e disse que enviará equipes técnicas para entender quais próximos cuidados podem ser tomados em relação ao passeio, uma vez que a serra da Barriga é patrimônio nacional.
"Agimos rápido, evitando mais mortes e salvando mais vidas. Infelizmente, tivemos essa tragédia. Manifesto mais uma vez minha solidariedade a todos os afetados."
Segundo a prefeitura, o ônibus prestava serviço para a Secretaria de Cultura e levava turistas e moradores da cidade para o projeto Pôr do Sol na Serra -onde os participantes conhecem a região, que tem o Parque Memorial Quilombo dos Palmares. O veículo era terceirizado. O dono da empresa já foi intimado a apresentar a documentação comprobatória de que o ônibus poderia fazer aquela viagem.
"Cerca de 800 pessoas fazem esse trajeto aos domingos, mas agora vamos repensar como será a continuidade desse projeto. No momento, ele está suspenso", disse o prefeito Kil Freitas (MDB). Entre os mortos velados nesta segunda estava o motorista Luciano de Queiroz Araújo, 47. Ele dirigia o ônibus. A viúva, Maria das Graças de Queiróz Silva, 50, mostrou à reportagem áudios de WhatsApp enviados por ele dias antes. Neles, Luciano dizia que teve problemas com o veículo na última terça-feira (19). "Amor, o carro quebrou. -Pocou- [estourou] a mangueira. Estou aqui tentando ajeitar", diz o trecho.
"Uma vez, o ônibus já tinha quebrado durante uma viagem, mas antes da subida. Na terça-feira, ele me mandou esse áudio dizendo que estava com problemas mecânicos. Eu quero justiça pelo que aconteceu e pela memória do meu marido", afirmou a viúva. Em nota, a prefeitura de União dos Palmares diz que a Associação dos Motoristas de Transporte Escolar de União dos Palmares já foi ouvida no processo de apuração e afirmou que o motorista dirigia mais de um veículo, "não sendo possível afirmar, de imediato, se o áudio apresentado pela viúva se refere ao veículo envolvido no acidente". Outra vítima velada nesta segunda foi a passageira Josefa Marcelino, 43. A família teve sete envolvidos no acidente, sendo que quatro receberam alta, incluindo os filhos Nicollas Gabriel, 5, Ana Luiza, 4, e Beatriz, 23. Duas pessoas continuam internadas e não correm risco de vida. No velório, o filho Breno Vitório, 18, segurava Nicollas e tentava reconfortar o menino. "Vou lhe mostrar a mamãe. Ela foi encontrar o papai lá no céu, tá certo?", explicou Breno antes de colocar o irmão até perto do rosto de Josefa durante o velório dela. Pouco depois, o menino saiu correndo para a rua, que estava cheia de pessoas que lamentavam a partida de Josefa.
"Minha mãe era uma pessoa muito querida, como vocês podem ver. Pelo menos vou guardar comigo as últimas palavras que trocamos. Eu pedi a ela a bênção e ela disse: -Deus te abençoe, meu filho-. Sei que ela vai continuar comigo", contou Breno. Mais cedo, no IML (Instituto Médico Legal), Maria Barros, 73, segurava as lágrimas no reconhecimento dos corpos de sua filha, Rosimeire Barros da Silva, 54, e sua bisneta, Andrielly Rafaella de Santana da Silva, 14. Ao todo, a família teve seis membros envolvidos no acidente. Quatro seguiam internados.
"Minha filha era uma excelente pessoa. Ela amava demais a Andrielly, que foi com ela para o passeio. Eu não tenho mais palavras. Só dor." Sobrevivente do acidente, a dona de casa Jacqueline Nunes da Silva, 33, deu à luz o menino Kaylan no HRM (Hospital Regional da Mata) ao ser atendida para tratar dos ferimentos. Tanto ela quanto o bebê devem receber alta nesta terça-feira (26). Ela foi jogada para fora do ônibus e conseguiu se segurar. Segundo ela, um galho a salvou."Viram que o meu bebê não estava muito bem e partiram logo para a cesárea. Tudo certo. Graças a Deus, meu bebê está vivo", afirmou.
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