Aderindo à Opep, Brasil adia transição para energias limpas e reforça modelo baseado no petróleo
19 de fev.
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O Brasil aderiu oficialmente à Carta de Cooperação entre Países Produtores de Petróleo (CoC), um fórum ligado à Organização dos Países Produtores de Petróleo (Opep), com uma decisão que sinaliza uma mudança de rumo na política ambiental do governo. A medida foi anunciada às vésperas da Conferência das Nações Unidas para o Clima (COP30), que acontecerá em Belém (PA), e se soma à controvertida decisão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva de autorizar a exploração de petróleo na região da Margem Equatorial, na bacia da Foz do Amazonas.
A adesão foi aprovada nesta terça-feira pelo Conselho Nacional de Política Energética (CNPE) e divulgada pelo ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira. A ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, ainda permanece em silêncio sobre o assunto, pressionada tanto por seu próprio partido quanto por líderes e organizações ambientais. Para Silveira, a entrada do Brasil na Opep representa uma ampliação das discussões sobre o mercado de petróleo e não deveria ser motivo de vergonha. “Não devemos nos envergonhar de sermos produtores de petróleo”, afirmou. O governo também revelou a intenção de ingressar na Agência Internacional de Energia (EIA) e na Agência Internacional de Energia Renovável (Irena), organismos que trabalham em prol da transição energética.
A adesão à Opep, com seu foco na economia do carbono, coloca o Brasil em uma trajetória de dependência do petróleo por uma geração. O modelo de desenvolvimento proposto se concentra na Região Norte do país, que já conta com a presença de grandes empresas, como a Vale, com atividades de mineração altamente poluentes. Para a população local e seus representantes políticos, atividades industriais como essas são vistas como uma alternativa ao avanço do tráfico de drogas, uma preocupação crescente no contexto da Amazônia.
No entanto, a estratégia da Petrobras de apostar na exploração de petróleo no Amapá, ao invés de acelerar sua transição para uma empresa de energia limpa e combustíveis verdes, pode ser arriscada. Atualmente, o Brasil possui reservas de cerca de 16 bilhões de barris de petróleo no pré-sal, e a exploração da Margem Equatorial da Foz do Amazonas pode gerar mais 14 bilhões de barris. Isso representa o equivalente às reservas de petróleo do Cazaquistão, um mercado ainda em expansão. A grande questão é qual será o impacto da transição energética nas próximas décadas.
A Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep), fundada em 1960, reúne 13 grandes produtores de petróleo, como Arábia Saudita, Venezuela e Irã, com poder para influenciar os preços do petróleo no mercado global. O Brasil foi convidado em 2023 a se integrar ao grupo. Em paralelo, um outro fórum, a CoC, que inclui países como México, Rússia e Malásia, também coopera com as políticas internacionais de petróleo. Embora o Brasil seja o nono maior produtor de petróleo do mundo, a transição para fontes alternativas de energia, como o carro elétrico, coloca em risco a continuidade desse modelo de crescimento.
Com o mundo cada vez mais voltado para alternativas energéticas, como os carros elétricos, o Brasil enfrenta um desafio. A China, grande aposta mundial na popularização dos veículos elétricos, pode reduzir a demanda por petróleo, impactando diretamente a exploração no Brasil. A Petrobras corre o risco de não se adaptar a tempo e perder a oportunidade de se posicionar como uma empresa focada em energias renováveis, ao mesmo tempo em que busca alternativas, como os modelos híbridos com etanol.
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