Banco Central mantém a taxa básica de juros em 10,5% e pausa sequência de reduções
Conforme o aguardado pelo mercado, o Comitê de Política Monetária (Copom) decidiu, de forma unânime, manter a taxa básica de juros do Brasil em 10,5%, encerrando o ciclo de reduções iniciado em agosto de 2023. Nas últimas sete reuniões, a autoridade monetária realizou sete cortes de 0,5 ponto percentual na Selic, e um corte de 0,25 p.p., na última reunião, em maio.
A decisão foi motivada por expectativas inflacionárias, devido à desvalorização do Real, e pelas crescentes preocupações com o equilíbrio das contas públicas. Atualmente, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), para o acumulado em 12 meses, está em 3,93%, valor que está dentro da meta de inflação estabelecida pelo Banco Central, que tem limite máximo de 4,5%.
Sobre o cenário externo, o Copom afirma que existe uma "incerteza elevada e persistente sobre a flexibilização da política monetária nos Estados Unidos e quanto à velocidade com que se observará a queda da inflação de forma sustentada em diversos países".
Já sobre o cenário brasileiro, o comitê afirma que há riscos de aumento da inflação, devido a pressões globais, uma resiliência no aumento de preços no setor de serviços, uma desaceleração da atividade econômica global mais acentuada do que a projetada. "O comitê avalia que as conjunturas doméstica e internacional seguem mais incertas, exigindo maior cautela na condução da política monetária".
Nos comunicados da última reunião, em maio, o Copom não havia informado o que faria nos encontros seguintes. Na edição mais recente do boletim Focus, pesquisa semanal com analistas de mercado, já havia a indicação de que a taxa básica continuaria em 10,5% ao ano até o fim de 2024. Há um mês, a estimativa era de que a Selic encerrasse o ano em 10%.
Desagrada governo e setores
A decisão de manter a taxa em 10,5% certamente desagrada o governo federal. Na terça-feira (18), o presidente Lula criticou o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, em entrevista à rádio CBN. “Um presidente do Banco Central que não demonstra nenhuma capacidade de autonomia, que tem lado político e que, na minha opinião, trabalha muito mais para prejudicar o país do que para ajudar o país. Porque não tem explicação a taxa de juros do jeito que está. Então, é preciso baixar a taxa de juro compatível com a inflação. A inflação está totalmente controlada”, afirmou Lula.
A notícia também deve desagradar parte dos setores produtivos do país. A Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg) continua defendendo uma maior redução na taxa de juros para fomentar os investimentos.
“A interrupção dos cortes da Selic é motivo de preocupação, pois a política monetária ainda se apresenta restritiva, o que desencoraja investimentos e afeta negativamente a capacidade produtiva do país. Os resultados dessa política contracionista já são sentidos na economia: a expectativa é de um crescimento econômico mais moderado em 2024 (2,0%) em relação a 2023 (2,9%). Além disso, a indústria, segmento importante para a geração de emprego e renda, vem sendo impactada duramente pelos juros em níveis elevados”, argumentou a Fiemg por meio de nota.
Já o presidente da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo de Minas Gerais – Fecomércio MG, Nadim Donato, considerou acertada a decisão de manutenção da Selic. “É imprescindível melhorar nossa gestão das despesas, a eficácia na utilização dos recursos e a produtividade do Estado. Assim, aumentaremos nossa efetividade e melhoraremos os gastos sociais, possibilitando um crescimento sem inflação”, disse o empresário. “Acreditamos ser imprescindível um diálogo entre as forças políticas e empresariais que trace diretrizes e tomadas de decisões, criando as condições necessárias para que prevaleça a estabilidade inflacionária e tenhamos um crescimento vigoroso”.
Para a Câmara dos Dirigentes Lojistas de Belo Horizonte (CDL/BH), é preciso equilibrar política fiscal com a monetária para manter o crescimento das vendas no comércio. “O compromisso em equilibrar as finanças públicas, reduzir gastos e aumentar as receitas ajudaria a manter as boas expectativas com a melhora na intenção de consumo das famílias, recuperação da renda e queda do endividamento. Como se sabe, a redução dos juros é um dos incentivadores do consumo e da economia. Por esse motivo, é também um anseio dos setores produtivos, sobretudo do comércio”, analisa o presidente da CDL/BH, Marcelo de Souza e Silva.
Quem atua no mercado financeiro comemora a decisão do Copom. Segundo Marcelo Bolzan, CGA, planejador financeiro e sócio da The Hill Capital, "o mercado vai receber bem a decisão e o comunicado. Amanhã devemos observar queda no dólar e nos juros futuros, enquanto que a bolsa deve abrir em alta refletindo maior otimismo com a política monetária".
O que é a taxa Selic?
A taxa básica de juros é usada nas negociações de títulos públicos emitidos pelo Tesouro Nacional no Sistema Especial de Liquidação e Custódia (Selic) e serve de referência para as demais taxas da economia. Ela é o principal instrumento do Banco Central para manter a inflação sob controle. O BC atua diariamente por meio de operações de mercado aberto – comprando e vendendo títulos públicos federais – para manter a taxa de juros próxima do valor definido na reunião.
Quando o Copom aumenta a taxa básica de juros, a finalidade é conter a demanda aquecida, e isso causa reflexos nos preços porque os juros mais altos encarecem o crédito e estimulam a poupança. Desse modo, taxas mais altas também podem dificultar a expansão da economia. Mas, além da Selic, os bancos consideram outros fatores na hora de definir os juros cobrados dos consumidores, como risco de inadimplência, lucro e despesas administrativas.
Ao reduzir a Selic, a tendência é de que o crédito fique mais barato, com incentivo à produção e ao consumo, reduzindo o controle da inflação e estimulando a atividade econômica.
O Copom reúne-se a cada 45 dias. No primeiro dia do encontro, são feitas apresentações técnicas sobre a evolução e as perspectivas das economias brasileira e mundial e o comportamento do mercado financeiro. No segundo dia, os membros do Copom, formado pela diretoria do BC, analisam as possibilidades e definem a Selic.
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