top of page
1e9c13_a8a182fe303c43e98ca5270110ea0ff0_mv2.gif

Casos de sarampo preocupam, mas Brasil ainda é país livre da doença

  • gazetadevarginhasi
  • 31 de mar.
  • 4 min de leitura
Reprodução
Reprodução
O aumento dos casos de sarampo no continente americano acende um alerta para o Brasil. No entanto, os três casos confirmados no país até o momento não comprometem a certificação de território livre da doença, conquistada novamente no ano passado.

“Para que essa recertificação seja perdida, é necessário que haja, por um ano a partir do primeiro caso, cadeias de transmissão sustentadas com o mesmo genótipo do vírus em circulação”, explica Marilda Siqueira, chefe do Laboratório de Vírus Respiratórios, Exantemáticos, Enterovírus e Emergências Virais da Fiocruz. O laboratório é credenciado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como unidade de referência regional para sarampo.

Até o momento, o Ministério da Saúde confirmou apenas casos esporádicos: dois no Rio de Janeiro, em bebês gêmeos que ainda não tinham idade para vacinação, e um no Distrito Federal, em uma mulher adulta que provavelmente foi infectada durante uma viagem ao exterior. Das 110 notificações suspeitas registradas até 12 de março, 22 permaneciam em investigação na última atualização do painel epidemiológico da pasta.

O sarampo é uma doença de notificação compulsória, o que significa que qualquer caso suspeito deve ser imediatamente comunicado às autoridades de saúde. O protocolo de resposta inclui identificação e monitoramento de contatos do infectado, além do bloqueio vacinal, que reforça a imunização em locais frequentados pela pessoa contaminada.

“O sarampo é causado por um dos vírus mais infecciosos que existem. Em ambientes com baixa cobertura vacinal, uma pessoa contaminada pode transmitir o vírus para até 17 indivíduos. Para efeito de comparação, o SARS-CoV-2, responsável pela covid-19, é transmitido, em média, para duas pessoas”, detalha Siqueira.

Aumento de casos nas Américas
O risco de disseminação cresce diante de surtos em outros países. Segundo relatório da Organização Pan-Americana da Saúde (Opas), divulgado em 24 de março, 507 casos de sarampo já foram confirmados no continente em 2024, ultrapassando o total de registros do ano passado. Os países mais afetados são Estados Unidos (301 casos, com duas mortes), Canadá (173), México (22) e Argentina (11). A Opas avalia que o risco de propagação da doença é alto.

O histórico brasileiro demonstra como a circulação internacional pode impactar a transmissão do vírus. Em 2017, a chegada de imigrantes venezuelanos ao Brasil coincidiu com um surto de sarampo no país vizinho. No ano seguinte, os casos se multiplicaram nos estados da fronteira e depois se espalharam para outras regiões.

“O problema não foi a entrada dos venezuelanos, mas o fato de que, naquela época, o Brasil já apresentava baixas taxas de cobertura vacinal. Com o volume de viagens internacionais e conexões aéreas que temos hoje, é esperado que o país registre alguns casos importados todos os anos. O essencial é impedir que se estabeleçam cadeias de transmissão prolongadas. Nossa principal ferramenta para isso é a vacinação”, ressalta Siqueira.

Vacinação e imunidade coletiva
A vacina contra o vírus do sarampo foi desenvolvida na década de 1960 e passou a ser amplamente aplicada no Brasil nos anos 1990. Atualmente, ela faz parte do imunizante Tríplice Viral, que também protege contra caxumba e rubéola. No Sistema Único de Saúde (SUS), a primeira dose deve ser aplicada aos 12 meses de idade e a segunda, aos 15 meses.

Em 2024, o país alcançou a meta de 95% de cobertura vacinal na primeira dose, mas menos de 80% das crianças receberam a segunda aplicação.
“A eficácia da vacina varia entre 93% e 95%, o que significa que uma pequena parcela das pessoas não desenvolve resposta imunológica suficiente com uma única dose. O reforço serve para corrigir essa falha primária e prolongar a proteção ao longo dos anos”, explica Juarez Cunha, diretor da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm).

O Brasil ainda enfrenta os efeitos de uma queda drástica na cobertura vacinal durante a pandemia de covid-19.
“Se uma coorte teve 70% de cobertura, significa que 30% das crianças daquela geração não foram vacinadas no tempo certo. Se essa lacuna não for corrigida, elas continuam como um grupo vulnerável”, alerta Cunha.

Por isso, pessoas de até 59 anos que não se vacinaram ou não sabem se receberam o imunizante devem procurar uma unidade de saúde. Dados das infecções registradas em 2024 nas Américas demonstram que a doença não atinge apenas crianças: quase metade dos casos confirmados ocorreu em pessoas entre 10 e 29 anos.

Embora adultos tenham menor risco de desenvolver complicações graves, eles podem transmitir o vírus para bebês menores de 1 ano e indivíduos imunossuprimidos que não podem ser vacinados. O avanço da imunização coletiva é essencial para proteger esses grupos.

“O sarampo é um dos melhores indicadores de falhas na vacinação de um país. Como é altamente contagioso, qualquer redução na cobertura vacinal resulta no aumento de casos, especialmente entre crianças pequenas”, afirma Luciana Phebo, chefe de Saúde do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) no Brasil.

Phebo também aponta a hesitação vacinal como um dos fatores responsáveis pelo retorno da doença.
“Esse fenômeno, que já foi considerado uma das maiores ameaças à saúde pública global, ocorre principalmente pela perda do medo da doença e pela desinformação. Muitas pessoas não se vacinam porque não conhecem os riscos do sarampo ou porque são influenciadas por discursos enganosos sobre a segurança das vacinas”, conclui.

Fonte:Agência Brasil

Comentarios


Gazeta de Varginha

bottom of page