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Coluna Arte e Cultura em Ação - 13/03/2025

  • gazetadevarginhasi
  • 13 de mar.
  • 4 min de leitura

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DA CRIAÇÃO À EDIÇÃO (PARTE 1)

Muitos leitores pegam um livro nas mãos, mas não conhecem todo o processo pelo qual aquele livro escolhido, para sua leitura, passa.
A criação é um mecanismo que envolve um complexo trabalho humano de criatividade, de cognição, de maturidade dentre tantos outros aparatos mentais e físicos.
A escrita, quando realmente levada a sério, é como as impressões digitais que carregamos nas pontas dos dedos, como nosso registro vocal – pode até ser parecida com outras obras escritas, mas cada um tem a sua. Fora isso, qualquer coisa que fuja disso, é plágio.
Escrever é LIBERTADOR e, quando alguém se propõe a escrever, é um ato que deve ser respeitado.
Há vários motivos para a humanidade compor uma obra escrita e, esses motivos, geralmente são muito pessoais, o que fica difícil e muito subjetivo qualificar um trabalho literário.
É óbvio que as questões básicas da língua devem ser levadas em conta, mas não são fatores preponderantes.
A qualidade sempre varia de acordo com a visão de mundo e o grau de intelectualidade de cada escritor e leitor, isso porque, para cada escritor sempre haverá um leitor disponível para desbravar a obra.
A LITERATURA é uma ARTE como todas as outras, aliás, muitos segmentos precisam das palavras para tomarem forma e criar seus contextos e, por estar ligada as demais artes, passa pelos mesmos nichos de sucesso, premiações, visibilidade, construção de celebridades – uns se despontam, outros, não. Isso não quer dizer que sua escrita não tenha valor.
Quando o artista da escrita, o produtor intelectual da obra, se propõe a publicar aquilo que escreveu, por ser a escrita um mecanismo ligado à sensibilidade humana, não cabe a ninguém julgar sua obra como excelente ou ruim, ainda que isso seja absolutamente normal.
Já li muitos livros, de autores renomadíssimos, que não passaram pelo meu gosto literário e o contrário também aconteceu – li obras excelentes de pessoas que, talvez, nunca farão sucesso.
O importante é reconhecer que todo escritor começa com um PRIMEIRO LIVRO. Foi assim com Cora Coralina, Jorge Amado, Machado de Assis, Clarice Lispector e tantos outros.
Publicar um livro sempre foi um parto.
Conheço histórias de escritores famosos que enquanto eram vivos passaram pelos mesmos perrengues que passamos hoje em dia. Escritores que hoje são ícones da literatura, mas que também, assim como muitos de nós, tiveram em seus lançamentos, meia dúzia de gatos pingados.
A escrita recebe influências. Ninguém escreve do nada, afinal a ARTE é MIMESIS – uma imitação ora fiel, ora grotesca, ora delicada, humorística, cruel, etc... etc, da realidade, porque como já disse, é como nossa digital. Sendo assim, cada escritor, inserido dentro de um espaço físico ou mental irá criar aquilo que o seu meio lhe oferece.
Depois da criação vem a edição da obra, ou seja, o CRIADOR tem a necessidade de tornar palpável sua criatura, sem falar que há criações que, até chegarem na criatura, levam um tempo longo que pode se arrastar por anos.
Aí a saga começa.
Primeiro falaremos de tempos já idos.
Machado de Assis começou como muitos de nós, escrevendo na adolescência e teve seu primeiro poema publicado num jornal do Rio de Janeiro e depois disso deslanchou. Teve uma produção literária intensa, mas sua vida, como a de muitos escritores, foi repleta de percalços.
Bastou morrer, para todos os grandes estudiosos das artes literárias transformá-lo num dos maiores escritores brasileiro, esquecendo que quando vivo não lhe atribuíram o que era merecido.
A vida é assim! Muitos só viram celebridades após sua morte – recebem nome de ruas, de parques, bustos esculpidos espalhados pelas praças.
O escritor que antes não era conhecido no seu lugar de pertencimento, passa a ser conhecido e reconhecido no seu país e, também, no mundo inteiro.
Cícero Acaiaba, se tivesse vivo, esse ano, comemoraria cem anos.
Custou para que o reconhecessem como um dos maiores sonetistas brasileiros, sem falar nas radionovelas, foram centenas.
Acaiaba também passou pelos pedregulhos que os escritores atuais passam. Teve 34 livros escritos, mas somente 14 foram publicados. Seus lançamentos não eram diferentes dos nossos – os tais gatos pingados e os livros não vendidos e, isso não é demérito. É fruto de uma sociedade que ainda não vê a LITERATURA como ferramenta necessária.
E poderia citar mais um tanto de escritores brasileiros e estrangeiros, e descrevendo a VIA CRUCIS pela qual passaram, assim como muitos de nós.
Mas os tempos mudaram e, a tecnologia que existia nos séculos passados foi aperfeiçoada ou, amaldiçoada.
O que antes era intransponível, hoje com um piscar de olhos está bem à nossa frente, mas os enfrentamentos são tão cruéis quanto os séculos passados.
O mercado virou arena de leões – de um lado a mente fervilhante dos criadores literários e, do outro, o mercado editorial, que borbulha em altas temperaturas, esperando para abocanhar o primeiro escritor incauto que aparecer à sua frente.
Mas hoje deixo aqui essa primeira parte da nossa saga de publicar um livro e, para a segunda parte falarei da máfia editorial, geralmente constituída de escritores frustrados, ou de pessoas que nunca leram um livro na vida e apenas encaram o mercado como meros comerciantes.
É claro que existem exceções, mas elas são exceções, pois, há seis anos estudando o mercado de publicações, pude ver as atrocidades que, somente quem é do meio pode compreender.


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