Ao longo deste século, o Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro — a soma de todas as riquezas produzidas no Brasil — cresceu de US$ 655 bilhões até US$ 2,173 trilhões em 2023, de acordo com dados do Banco Mundial. A economia brasileira registra um crescimento médio anual de 2,32% no período, taxa que supera a de economias mais desenvolvidas, como a da Zona do Euro (1,32%) e do país mais rico do mundo, os Estados Unidos (2,13%).
“Se pegar países saudáveis — que não estão em guerra civil e que não tem problemas estruturais —, a curva de crescimento da economia é como a do ser humano. Economias pequenas crescem mais rapidamente, enquanto as maiores, em menor ritmo. À medida que a curva vai subindo, ela se aproxima do cume”, explica Robson Gonçalves, economista da Fundação Getulio Vargas (FGV). Porém, o ritmo proporcional maior não foi suficiente para diminuir a distância entre o Brasil e a maior economia do mundo. O que antes era uma diferença de US$ 9,59 trilhões entre o PIB dos dois países, em 2023 a distância se ampliou para US$ 25,187 trilhões. Nem mesmo a Zona do Euro tem conseguido acompanhar o ritmo norte-americano. Os países europeus foram perdendo fôlego de modo a crescer a distância para os EUA. No início dos anos 2000, os EUA superavam os países que adotam o euro com menos de US$ 4 trilhões. O afastamento entre ambos voltou a crescer de 2011 para 2012, quando a economia europeia caiu de US$ 13,7 trilhões para US$ 12,7 trilhões, e a norte-americana subiu de US$ 15,6 trilhões para US$ 16,2 trilhões. Hoje a distância da Zona do Euro para os EUA é de quase US$ 12 trilhões. Enquanto a locomotiva norte-americana seguiu a todo vapor, a europeia viu um de seus principais motores começar a falhar: a Alemanha. No início do século, a economia germânica representava 29,8% da riqueza da Zona do Euro. No pior momento, em 2009, a fatia alemã era de 26,23%. Nos últimos anos fica em torno de 28%. De 2000 até 2011, quando as economias europeias e a norte-americana tinham uma comparação mais próxima, o PIB da Alemanha cresceu US$ 1,802 trilhão, chegando a US$ 3,749 trilhões. Daquele ano em diante o crescimento foi de US$ 707 bilhões, a US$ 4,456 trilhões.
“A Alemanha tem sido danificada, muito vinculada à Rússia pela energia, entra em crise e a governança recente tem sido muito ruim. Cometeu erros estratégicos de política econômica ao fechar usinas nucleares, e agora vem enfrentando uma crise no seu modelo”, observa Tony Volpon, ex-diretor do Banco Central (BC) para Assuntos Internacionais, professor-adjunto na Universidade de Georgetown e colunista do CNN Money. Além da economia em si, o PIB per capita do Brasil também cresceu mais que o da Zona do Euro e dos EUA desde 2000. O Banco Mundial aponta que a distribuição de renda no país subiu de US$ 3.726,80 para US$ 10.043,60 até 2023, alta de 169%. Nos outros dois, a taxa foi de 121% e 124%, respectivamente. Ainda assim, o PIB per capita brasileiro segue muito abaixo dos países que utilizam o euro (US$ 44.368,60) e do norte-americano (US$ 81.695,20). Olhando para os números absolutos, nota-se a expressividade da economia norte-americana, que segue consolidada como a maior do mundo. Logo atrás, a economia chinesa, que é vista como uma párea para os EUA, começa a mostrar sinais de exaustão e desaceleração de seu crescimento em meio à crise imobiliária e de demanda profunda no país. Por outro lado, os norte-americanos seguem superando as previsões pessimistas e mostrando a resiliência da economia. Enquanto algumas previsões de mercado apontavam para uma potencial recessão no país após a pandemia forçar a inflação e os juros norte-americanos para cima, o PIB dos EUA cresceu 5,8% em 2021, 1,9% em 2022 e 2,5% em 2023. O que permitiu os EUA se consolidarem como a maior economia do mundo, segundo Robson Gonçalves, é uma vantagem chamada “gravitacional”.
“Quanto maior a economia, maior a influência nos países ao redor e no mundo”, explica o professor da FGV. Entre os fatores que fazem a gravidade da economia norte-americana pesar, economistas ouvidos pela CNN apontam seu crédito e mercado de trabalho flexíveis, produtividade e a posição do dólar na economia mundial. Quando olham para a economia europeia, os economistas destacam como nos mesmos pontos onde a economia dos EUA brilha, a europeia carece de dinamismo O patamar elevado dos juros do Federal Reserve (Fed, o banco central dos EUA) no pós-pandemia são uma exceção na história recente do país. Entre 2000 e 2023, foram raros os momentos em que as taxas norte-americanas passaram de 2%. Com os juros mais baixos, os EUA conseguem consolidar um sistema financeiro mais flexível, o que impulsiona o consumo no país. Mas não só de crédito barato se faz o incentivo, também é necessário o fator renda. E é olhando para o mercado de trabalho do país onde destaca-se uma diferença importante que faz a economia dos EUA decolar num ritmo que outras não acompanham.
“Apesar dos pesares, os Estados Unidos lidam com a questão da imigração melhor que Europa. O fluxo de países latino-americanos vem de muitas décadas, e a maioria deles são imigrantes legais e aptos para trabalhar. Esse movimento firmou o mercado de trabalho pujante do país, que tem de sobra desde grandes cientistas até trabalhadores braçais”, afirma Gonçalves. Esses dois fatores geram a tão falada flexibilidade da economia norte-americana.
“Juntos, o mercado de crédito e de trabalho muito flexível têm feito dos Estados Unidos o grande consumidor mundial”, pontua Volpon.
“Na Europa, a economia é super regulada, o que leva ela a pagar o preço de um crescimento mais lento”, conclui o ex-BC Se olharmos para os mercados financeiros desses países, nota-se onde é pago esse preço. De 2005 a 2024, o Ibovespa passou dos 25 mil pontos para rondar em torno de 128 mil, alta de 398% no período. Durante o período, a alta vista no índice S&P 500, dos EUA, de 385%, apesar de ligeiramente menor mostra como o mercado norte-americano é atrativo. Já o índice europeu Stoxx 600 subiu 98% no período.
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