Corpos dos supostos traficantes que teriam confundido médico com miliciano são achados no RJ
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No início da madrugada de sexta-feira (6), as polícias Civil e Militar encontraram quatro corpos que seriam dos suspeitos de terem assassinado a tiros três médicos em um quiosque da Barra da Tijuca, zona oeste do Rio de Janeiro.
De acordo com investigadores, os cadáveres dos suspeitos estavam em dois pontos distintos da zona oeste --na Gardênia Azul havia um corpo no porta-malas de um carro, já nas proximidades do centro de convenções Riocentro, e outros três estavam em outro veículo.
A informação da denúncia à polícia foi que os mortos seriam integrantes de uma organização criminosa da Gardênia Azul, que possuem os apelidos Ryan, Preto Foso, BMW e Phillip Motta Pereira, o Lesk. Exames periciais serão realizados para confirmar as identidades.
A polícia apura se eles foram mortos porque teriam confundido o ortopedista Perseu Ribeiro Almeida, 33, com Taillon de Alcantara Pereira Barbosa, 26, acusado pelo Ministério Público estadual de integrar a milícia de Rio das Pedras. Milicianos são criminosos que exploram o comércio local e cobram taxas de segurança ilegais, sob coação.
Conforme a Folha de S.Paulo noticiou, a polícia apura se o Comando Vermelho matou os narcomilicianos envolvidos no assassinato dos médicos após terem conhecimento de que eles atiraram em inocentes e o caso ganhar repercussão nacional.
A chamada narcomilícia surgiu a partir de 2021, quando houve uma ruptura interna na milícia da região. Enfraquecidos, o miliciano Lesk procurou apoio com traficantes da Cidade de Deus, na zona oeste.
Uma aliança foi firmada, então, entre os ex-integrantes da milícia e o tráfico, gerando o que a polícia chama de narcomilícia na Gardênia, com a liderança tanto de milicianos locais quanto de traficantes da facção Comando Vermelho. Os traficantes têm os complexos da Penha e do Alemão como base principal.
Logo após efetuarem os disparos contra os médicos, os criminosos teriam fugido para o bairro Cidade de Deus. A polícia investiga se um "tribunal do tráfico" foi montado na Penha, determinando a morte dos envolvidos.
Segundo um investigador, o objetivo do tráfico seria evitar operações policiais em favelas da facção. O caso segue sob investigação.
O crime
O crime aconteceu por volta da 1h, em frente ao Windsor Hotel, área nobre do bairro. Toda a ação durou exatos 27 segundos e foi registrada por câmeras de segurança. No vídeo, os quatro médicos aparecem sentados em uma mesa do quiosque quando três homens, vestidos com roupas pretas, descem de um carro branco parado do outro lado da via e começam a atirar no grupo.
Após balearem os quatro ocupantes da mesa, os criminosos voltam correndo para o veículo e vão embora sem roubar nada. As imagens mostram também que outros clientes do quiosque testemunharam o ataque e saíram correndo para não serem feridos.
Uma testemunha que estava no quiosque e prestou depoimento afirmou que não houve anúncio de assalto antes dos disparos. Os celulares dos médicos foram apreendidos e irão passar por perícia. Não foi divulgado se algum deles tinha sofrido alguma ameaça.
Áudio sugere mortes por engano
Um áudio interceptado pela Polícia Civil sugere que um indivíduo possivelmente ligado ao tráfico de drogas forneceu uma possível pista sobre o local do ataque que resultou na morte de três médicos na noite de quarta-feira. Conforme relatado pelo G1, na gravação, o indivíduo menciona: "Acho que é Posto 2". O crime ocorreu em um quiosque localizado na Barra da Tijuca, precisamente no Posto 2 da orla.
Uma das linhas de investigação em curso sugere que a semelhança física entre o ortopedista Perseu Ribeiro de Almeida, de 33 anos, e o miliciano Taillon de Alcântara Pereira Barbosa, de 26 anos, pode ter contribuído para o trágico episódio. De acordo com informações das polícias Civil e Federal, Perseu compartilhava características físicas semelhantes a Taillon, incluindo peso, altura, cabelo e barba, e essa semelhança pode ter levado à confusão quando ele estava em um quiosque na orla frequentado pelo referido criminoso.
Taillon mora perto do quiosque onde médicos foram executados
Taillon mora na Avenida Lucio Costa, a mesma onde fica o quiosque onde os médicos foram mortos. o miliciano costumava frequentar o local. A ordem para matar os quatro homens sentados no quiosque na Barra teria partido de Phillip Motta Pereira, o Lesk, responsável pela milícia da Gardênia Azul, também na Zona Oeste da cidade.
A motivação seria uma vingança pela morte de outro miliciano, Paulo Aragão Furtado, conhecido como Vin Diesel, em 16 de setembro. A vítima era aliada de Lesk e Taillon teria envolvimento na execução.
Lesk é um dos quatro traficantes encontrados mortos
Na madrugada de sexta, horas após os assassinatos dos médicos, policiais encontraram quatro traficantes mortos nos arredores da Gardênia Azul. Dentre eles, Lesk. Também foi identificado Ryan Soares de Almeida, braço direito de Lesk. Ele e os outros dois mortos estavam num Honda HRV abandonado na Rua Abraão Jabor, no Camorim.
As mortes dos traficantes teria sido ordenada pelo chamado "tribunal do crime", insatisfeito com a repercussão dos assassinatos dos médicos na Barra.
Lesk virou réu na Justiça do Rio após ser apontado como integrante de um grupo paramilitar e de uma facção do tráfico de drogas. Foragido da Justiça, ele teve a prisão preventiva decretada por crime de associação para o tráfico em setembro de 2019. Seu corpo estava na mala de um Toyota Yaris, deixado na Gardênia Azul.
A polícia também acredita que Juan Breno Malta Ramos Rodrigues, conhecido como BMW, esteja envolvido no ataque aos ortopedistas, na madrugada de quinta-feira. Principal auxiliar de Lesk, BMW foi responsável por diversas mortes ocorridas nos últimos meses na Gardênia Azul e no Anil, ambas em Jacarepaguá.