Dólar volta a ser cotado acima dos R$ 5 pela 1ª vez em mais de dois meses
19 de ago. de 2023
Reprodução
O dólar segue sua trajetória de valorização recente na manhã desta sexta-feira, ultrapassando o patamar dos R$ 5 pela primeira vez em mais de dois meses.
Por volta de 09h40, a moeda americana subia 0,33%, negociada a R$ 4,9975 após atingir a máxima de R$ 5,0015. O dólar não era negociado acima dos R$ 5 desde o pregão de 02 de junho, quando chegou a ser cotado na máxima de R$ 5,0039.
Após fechar julho na faixa dos R$ 4,72, a divisa já acumulava ganhos de mais de 5% em agosto até o fechamento de quinta-feira, reduzindo a forte apreciação do real em 2023 para próximo dos 5%.
Mas o que explica a mudança de patamar? O movimento de apreciação recente do dólar é influenciado principalmente por fatores externos.
A divisa americana vem recuperando espaço em agosto. O índice DXY, que mede o comportamento do dólar contra uma cesta de moedas fortes, chegou a cair abaixo dos 100 pontos em julho, menor patamar desde abril de 2022. Nos últimos dias, no entanto, já retomou a casa dos 103 pontos.
A mudança ocorre no momento em que a economia dos Estados Unidos se mantém resiliente e há uma disparada nos rendimentos dos títulos do Tesouro americano, os Treasuries. Os títulos de 10 anos, observados de perto pelo mercado, atingiram máximas não vistas desde a crise global de 2008 nesta semana.
Taxa no maior patamar desde 2001
Com a alta desses títulos, a tendência é que mais dólares saiam de mercados emergentes em direção aos EUA.
A alta dos Treasuries é influenciada, dentre outros fatores, pelas incertezas dos agentes a respeito da continuidade do processo de aperto monetário nos EUA.
O Federal Reserve, BC americano, elevou os juros ao maior patamar desde 2001 e ainda não deu o ciclo de altas por encerrado. Os dirigentes do BC têm reiterado a dependência de dados para os próximos encontros.
Com isso, parte do mercado ainda trabalha com a possibilidade de mais uma elevação nos juros este ano. Diante das preocupações com a inflação e a resiliência da economia americana, as taxas devem permanecer em patamar elevado por mais tempo.
Títulos públicos nos EUA
Na quarta-feira, a ata da última reunião de política monetária do Fed mostrou que os membros da autoridade monetária ainda enxergam pressões inflacionários, sinalizando para a possibilidade de novas altas. A divulgação deu novo fôlego ao dólar.
— Temos a questão dos juros nos Estados Unidos, a desaceleração econômica da China, e, no cenário interno, a perspectiva de juros mais baixos, que reduzem a atratividade do real para as operações de carry trade — disse o estrategista-chefe do Banco Mizuho, Luciano Rostagno, sobre a recente valorização do dólar.
Carry trade é a operação que consiste em tomar dinheiro emprestado a juros mais baixos e alocá-lo onde as taxas são maiores.
Parte do movimento na renda fixa americana também ocorre depois que o Departamento do Tesouro dos EUA anunciou um aumento nas emissões de títulos públicos, diante da escalada da dívida do país. Recentemente, os EUA tiveram sua nota de crédito rebaixado pela agência de classificação de risco Fitch.
Além disso, nas últimas semanas, o sentimento de aversão ao risco aumentou com o rebaixamento do rating de crédito de alguns bancos de pequeno e médio porte por parte de agências de classificação de risco e a possibilidade de que instituições maiores também tenham suas notas rebaixadas.
Com isso, os participantes do mercado têm exigido taxas cada vez mais altas.
Nesta sexta-feira, os Treasuries apresnetam movimento de recuo, mas incertezas sobre a economia chinesa mantêm a aversão ao risco na cena externa.
Preços das commodities
Outro fator externo que tende a jogar contra o real são os sinais de desaceleração da economia chinesa. Nos últimos meses, o país asiático tem divulgado uma série de indicadores econômicos abaixo das expectativas.
O desempenho mais fraco, principalmente do setor imobiliário chinês, tende a pressionar os preços de commodities importantes, além de impedir maiores valorizações desses produtos.
Parte da valorização do real nos últimos meses também se deu pelo diferencial de juros elevado do mercado doméstico em relação ao exterior. Esse cenário facilita as operações de carry trade.
Com o início do ciclo de cortes da Selic, a tendência é que esse diferencial se estreite. Ainda assim, analistas avaliam que o real deva continuar se beneficiando dos juros locais elevados por mais um tempo.
No último boletim Focus, relatório semanal divulgado pelo Banco Central (BC) com as expectativas de agentes de mercado, a projeção para o dólar ao final deste ano estava em R$ 4,93. Para 2025, a estimativa era de R$ 5.
Nas últimas semanas, diversos bancos revisaram para baixo suas projeções de dólar ante o real.
Rostagno, do Mizuho, avalia que a moeda americana deva apresentar um viés de alta ante o real até o final do ano.
— O câmbio deve fechar em torno de R$ 5 ou um pouco acima de R$ 5, e se estabelecer nesse patamar no ano que vem. Isso por causa desse cenário de desaceleração econômica mundial, taxas de juros altas nos EUA por mais tempo, e aqui o Banco Central dando sequência ao ciclo de afrouxamento monetário.
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