Duplicação da BR-381 enfrenta entraves com desapropriações e moradores aguardam definição
24 de fev.
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A apenas um metro da BR-381, a casa da vendedora ambulante Cristiane Cardoso de Souza, 35 anos, simboliza o impasse que há décadas dificulta a duplicação da rodovia. Moradora do bairro Bom Destino, em Santa Luzia, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, Cristiane e sua família são algumas das 1.749 pessoas que precisam ser indenizadas e realocadas para que a obra finalmente saia do papel.
Conhecida como “Rodovia da Morte”, a BR-381 tem sua duplicação prometida há 35 anos, mas o trecho de 40 km entre Belo Horizonte e Caeté não foi incluído no recente leilão de concessão devido ao alto número de desapropriações necessárias. No total, cerca de 300 imóveis precisam ser removidos, com um custo estimado, somando obras e indenizações, de R$ 1,3 bilhão.
O Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit), responsável pela gestão desse trecho, ainda não divulgou um cronograma para as desapropriações. Enquanto isso, as obras na parte concedida à iniciativa privada – de Caeté a Governador Valadares – já foram iniciadas em 6 de fevereiro.
Durante uma visita a Belo Horizonte no início deste mês, o ministro dos Transportes, Renan Filho, anunciou o início das negociações para viabilizar as intervenções no trecho de responsabilidade federal. No entanto, moradores ainda não viram avanços concretos.
Incerteza e insegurança para moradores
Cristiane relata que representantes do Dnit já estiveram no bairro Bom Destino e informaram que a família teria que deixar a residência. “Não é a primeira vez que dizem isso, mas depois nada acontece”, desabafa a moradora, que vive na região há 30 anos com os três filhos.
Em Belo Horizonte, moradores da Vila da Luz, na região Nordeste da capital, enfrentam situação semelhante. A comunidade foi construída dentro da área de um trevo que liga o Anel Rodoviário à BR-381, e seus moradores aguardam uma definição sobre desapropriações e indenizações.
A dona de casa Imaculada Conceição da Silva, 55 anos, foi uma das primeiras a se estabelecer na vila, há 20 anos. “Sempre ouvimos que precisaríamos sair, mas até agora nada foi resolvido”, relata.
Moradores cobram agilidade do governo
Na Vila da Luz, as informações sobre o processo de indenização chegam por meio de uma comissão de moradores. Viviane Gonçalves de Almeida, dona de um salão de beleza na região, afirma que há um processo judicial em andamento para negociar os reassentamentos com o governo federal.
“Já perdemos parentes aqui”, lamenta Viviane. “Passamos a vida tendo que atravessar essa rodovia perigosa”, acrescenta.
O cotidiano dos moradores da comunidade é desafiador: para acessar escolas e supermercados, é preciso atravessar a rodovia. Uma das passarelas que ligam a vila a bairros vizinhos ainda parece estar em construção, sustentada por andaimes. Dependendo da localização da casa dentro da comunidade, o trajeto até a travessia pode levar até 15 minutos.
Além dos riscos do trânsito intenso, os moradores lidam com precariedade nos serviços básicos. Tanto no bairro Bom Destino, em Santa Luzia, quanto na Vila da Luz, muitas residências têm ligações clandestinas de água e energia elétrica. O recebimento de correspondências também é um problema, levando muitos moradores a utilizarem o endereço de amigos ou parentes para manter contato com bancos e outras instituições.
Enquanto as desapropriações seguem sem solução, famílias continuam vivendo na incerteza, aguardando que o governo cumpra as promessas e avance com as negociações para permitir a duplicação da rodovia.
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