Entenda a diferença entre as fontes de Césio-137 que desapareceram e a que provocou tragédia em GO
A Polícia Civil apura o furto de duas fontes de Césio-137 de uma mineradora em Nazareno (MG). O caso também é investigado pela Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN), do governo federal.
Segundo a CNEN, as fontes furtadas são confecionadas em material cerâmico e duplamente revestidas com aço inoxidável, além de serem blindadas externamente em aço inox, resistente ao impacto. Conforme o órgão, a classificação de risco é 5, o que é considerado baixo.
"Essas fontes são constituídas de um material cerâmico e, portanto, não têm uma característica de dispersibilidade, ao contrário da fonte envolvida no acidente de Goiânia, ela não é dispersível. Além disso, a intensidade dessa fonte, a atividade dela é cerca de 300 mil vezes inferior àquela fonte do acidente de Goiânia.
Portanto, não existe um acidente radiológico em curso e nem existirá em decorrência da perda dessas fontes", disse o diretor de radioproteção e segurança da Comissão Nacional de Energia Nuclear, Alessandro Facure.
Para o doutor em física pela Universidade de São Paulo e professor da Universidade Federal de Itajubá, Paulo Sizuo Waki, apesar do risco ser considerado baixo, para se repetir o desastre de Goiânia, alguns fatores devem acontecer:
"Em primeiro lugar, não é a radioatividade em si que preocupa. Mas sim o próprio césio. Em Goiânia, as pessoas abriram a cápsula e como o césio apresenta a propriedade da fosforescência (brilha no escuro), as crianças brincaram com o pó, acabando por se contaminar (tanto pelo contato na pele, mas ingerindo mesmo)".
"O perigo agora é os ladrões abrirem as cápsulas para ver o que tem dentro. Daí, por não se interessarem, jogarem fora (num terreno baldio ou mesmo no lixo) e daí começa o processo de contaminação".
O professor ressalta que se a quantidade de césio e a sua atividade forem baixas, realmente não haverá mais problemas, mas que isso terá que ser atestado por medições dos técnicos do CNEN.
O professor ressalta que tanto o acidente de Goiânia, em 1987 e este episódio de agora, possuem ingredientes em comum.
"Falta de medidas de segurança na guarda do material (em Goiânia o equipamento estava abandonado num terreno baldio) e agora foi roubado (faltou segurança) e a falta de esclarecimento sobre os perigos da radiação (tanto o catador de lixo em Goiania, como o ladrão agora). As pessoas por ignorância, passam o material de mão em mão, sem saber que estão se contaminando. Para evitar este tipo de acidente, deve-se estabelecer protocolos mais rígidos de controle", disse o professor.
Em doses altas, o contato do Césio-137 com o corpo humano pode levar à morte em pouco tempo ou a câncer a longo prazo.
O professor ressalta as medidas que devem ser tomadas pelas pessoas em caso de contato com o material.
"Em primeiro lugar, a conscientização de que não se deve manusear materiais desconhecidos. Uma vez que entrou em contato, medidas de retirada do material o quanto antes, para reduzir o tempo de exposição à radioatividade".
"Lavar as mãos e pés, com sabão e/ou substâncias apropriadas como alguns ácidos para retirar o césio da pele. Roupas e sapatos devem ser descartados. Beber muito líquido para apressar a eliminação do césio (que é um tipo de sal) que foi ingerido"