Especialistas em educação têm opiniões divergentes sobre a lei federal que proíbe o uso de celular em sala de aula
16 de jan.
Reprodução
O projeto de lei que limita o uso de celulares em escolas públicas e privadas de todo o país, desde a educação infantil até o ensino médio, foi sancionado pelo presidente Lula (PT) no último dia 13. Embora a medida seja definitiva, faltando apenas sua regulamentação, não há consenso entre profissionais da educação, alunos e professores sobre o assunto.
Vanessa Portugal, diretora do Sindicato dos Trabalhadores em Educação da Rede Pública Municipal de Belo Horizonte, destacou que, embora exista um acordo sobre a necessidade de controlar ou educar os alunos quanto ao uso de celulares, a proibição em si não é vista como uma solução ideal. "Alguns profissionais acreditam que a proibição é a única forma de controle, mas o maior desafio será lidar diretamente com as dificuldades e insatisfações que isso pode gerar", afirmou.
O psicólogo e orientador educacional Marcos Henrique alerta que a decisão pode causar agitação emocional nos alunos. "O celular não é apenas uma ferramenta de comunicação, mas também proporciona conforto e segurança emocional. Muitos estudantes se sentem dependentes do aparelho para se conectar socialmente ou até mesmo para aliviar tédio e ansiedade", explicou.
Renan Ferreirinha (PSD-RJ), relator do projeto na Câmara, defendeu que a proposta não condena o uso de tecnologia na educação, mas enfatiza que ele deve ser "consciente e responsável, com um propósito pedagógico e orientado". Para Marcos Henrique, uma proibição repentina pode resultar em irritabilidade, aumento do estresse e até sintomas de abstinência digital, como inquietação e dificuldade de concentração.
Paulo Leite, superintendente do Sindicato das Escolas Particulares, observa que o uso excessivo de celulares nas escolas tem sido motivo de preocupação, e muitas instituições têm adotado a limitação do uso. "A escola deve ser um ambiente de interação social, onde os alunos aprendem a se relacionar e a desenvolver sua capacidade de comunicação", disse.
A estudante Ana Júlia Barros, de 18 anos, considera a lei absurda. "O celular ajuda muito, por exemplo, para abrir PDFs e tirar fotos do quadro quando não há tempo de copiar. E por que não pode usar no recreio? Não é um momento para relaxar?", questiona. Sua mãe, Valéria Barros Freitas, professora da rede particular, vê a medida com bons olhos, embora ache extremo proibir o uso até nos intervalos. "Já perdi as contas de quantas vezes precisei disputar a atenção dos alunos com o celular", comentou.
Para o psicólogo Marcos Henrique, a aceitação da medida pode ser facilitada com um diálogo claro sobre seus benefícios. "Se os jovens compreenderem os benefícios da proibição, como o aumento da concentração e o incentivo a interações saudáveis, essa mudança será mais bem recebida", sugeriu.
A doutora em psicologia pela USP, Karen Scavacini, vê a proibição dos celulares como uma oportunidade para melhorar a interação social dos alunos. "Eles terão mais tempo para interagir uns com os outros, praticar brincadeiras e interações offline. Isso pode resultar em maior concentração e melhor retenção do conteúdo, uma vez que os professores não terão que competir com os smartphones pela atenção dos alunos", concluiu.
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