“Houve uma matança”, diz Lula sobre operação operação no Rio que deixou 121 mortos
gazetadevarginhasi
há 3 dias
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Divulgação
Lula pede investigação paralela sobre operação policial que deixou 121 mortos no Rio de Janeiro.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) afirmou nesta terça-feira (4/11) que o governo federal pretende realizar uma investigação paralela sobre a operação policial que resultou na morte de 121 pessoas nos complexos do Alemão e da Penha, no Rio de Janeiro. A ação, considerada a mais letal da história do país, tinha como objetivo conter a expansão do Comando Vermelho.
Em entrevista concedida em Belém (PA), onde será realizada a COP30, Lula declarou que “houve uma matança” durante a operação.
“A decisão do juiz era uma ordem de prisão, não de matança. E houve uma matança. É importante ver em que condições isso aconteceu”, afirmou o presidente.
Segundo ele, o governo estuda a participação de legistas da Polícia Federal no processo de apuração das mortes.
Críticas e repercussões internacionais
A operação recebeu fortes críticas de organizações de direitos humanos, que a classificaram como uma chacina e questionaram sua eficácia como política de segurança pública. O Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos afirmou estar “horrorizado” com o número de mortos.
O Ministério Público Federal (MPF) e a Defensoria Pública da União (DPU) também cobraram explicações do governador Cláudio Castro (PL) sobre a ação policial, citando a alta letalidade.
Um grupo de especialistas da ONU pediu ainda uma investigação independente e imediata, alertando que os fatos podem configurar “homicídios ilegais”.
Dados e balanço da operação
A operação mobilizou 2,5 mil agentes das forças de segurança do Rio para cumprir 180 mandados de busca e apreensão e 100 de prisão.
Segundo a Polícia Civil, 113 pessoas foram presas e mais de 95% dos mortos tinham ligação comprovada com o Comando Vermelho, sendo 54% de fora do Estado.
Ainda conforme o balanço oficial, 59 das vítimas possuíam mandados de prisão e 97 tinham histórico criminal relevante. Por outro lado, 17 mortos não tinham antecedentes, embora a polícia alegue que 12 apresentavam indícios de envolvimento com o tráfico em redes sociais.
A operação não alcançou parte da cúpula da facção, incluindo Edgard Alves de Andrade (Doca), Pedro Paulo Guedes (Pedro Bala), Juan Pedro Ramos (BMW) e Carlos da Costa Neves (Gardenal) — todos ainda foragidos.
Opinião pública e disputa política
Apesar da repercussão negativa internacional, pesquisas apontam que a maioria da população aprovou a ação. Segundo o AtlasIntel, 55% dos brasileiros apoiaram a operação — número que sobe para 62% no Rio de Janeiro e chega a 80% entre moradores de favelas. Levantamento do Datafolha indicou que 57% dos moradores do Grande Rio consideraram a operação “um sucesso”.
Lula, no entanto, avaliou que a ação foi “desastrosa do ponto de vista do Estado”.
“Podem considerar um sucesso pelo número de prisões ou mortes, mas, do ponto de vista da ação do Estado, foi desastrosa”, afirmou.
Antes da operação, Lula havia sido criticado por dizer que “traficantes eram vítimas dos usuários”, frase pela qual se retratou posteriormente, alegando que “foi mal colocada”.
Embate entre governo federal e estado do Rio
Durante a operação, o governador Cláudio Castro afirmou que o Rio estava “sozinho” no combate ao crime organizado, sem apoio de forças federais.O ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski, rebateu a declaração:
“Não recebi nenhum pedido do governador para esta operação, nem ontem, nem hoje. Nenhum pedido foi negado.”
No dia seguinte, ambos se reuniram e anunciaram uma cooperação entre governo federal e estadual para ações futuras de segurança pública.
Especialistas, contudo, alertam que operações desse tipo têm efeito limitado sobre o crime. Segundo o especialista em segurança pública Ricardo Brisolla Balestreri, a ação “teve caráter midiático e expôs policiais a alto risco”.
“É de uma irresponsabilidade enorme colocar 2.500 agentes sem expertise para confronto com grupos fortemente armados, apenas para gerar espetáculo”, afirmou.
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