Itamar Vieira Junior fala sobre carreira, literatura brasileira e sucesso de Torto Arado no Flipoços
gazetadevarginhasi
6 de mai.
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O escritor Itamar Vieira Junior, autor do premiado Torto Arado, participou pela primeira vez do Festival Literário Internacional de Poços de Caldas (Flipoços) no sábado (3), no penúltimo dia do evento. Antes de sua apresentação, ele conversou com o g1 Sul de Minas sobre sua trajetória, o bom momento da literatura nacional e o impacto da leitura na sociedade.
O bom momento da literatura brasileira
Para Itamar, a literatura brasileira vive uma “primavera”, impulsionada pela diversidade de vozes e temas que têm conquistado leitores por todo o país. “Os leitores têm abraçado essa literatura e descoberto o valor e a qualidade das nossas obras”, afirmou. Segundo ele, o cenário atual é marcado por autores de várias regiões do Brasil que apresentam narrativas plurais, retratando um país continental e multifacetado. “A literatura contemporânea estava muito centrada nas cidades, nos grandes centros. Agora temos escritores que dão conta dessa diversidade brasileira.”
Uma infância com
livros, mas sem apoio
Nascido e criado em Salvador (BA), Itamar começou a ler cedo, incentivado por Marlene, vizinha filha do verdureiro, que o alfabetizou. Ainda criança, começou a escrever, mas enfrentou resistência em casa. “Minha mãe achava que eu estava perdendo tempo”, relembra. Como não havia referências próximas de escritores vivos, ele chegou a acreditar que só poderia ser autor depois de morrer. Por isso, optou por estudar geografia e trabalhar no setor público, mantendo a escrita como um hobby secreto.
O começo da carreira literária
A virada veio aos 32 anos, quando Itamar já tinha mestrado e atuava no Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária). Foi ao participar de um concurso literário que publicou seu primeiro livro, Dias. Mais tarde, enviou Torto Arado ao prêmio literário LeYa, em Portugal — uma tentativa que julgava protocolar. A obra foi escolhida entre mais de mil originais, publicada primeiro em solo português e, depois, no Brasil.
Durante a pandemia, o livro ganhou força graças ao boca-a-boca e à participação ativa de Itamar em clubes de leitura on-line. A repercussão culminou nos prêmios Jabuti e Oceanos, consolidando seu nome no cenário literário.
O fenômeno Torto Arado
Lançado em 2019, Torto Arado conta a história das irmãs Bibiana e Belonísia, que vivem em condições análogas à escravidão na Chapada Diamantina. Com mais de 1 milhão de exemplares vendidos e traduções em mais de 30 idiomas, o romance tornou-se um marco da literatura brasileira contemporânea.
A continuação da saga, Salvar o Fogo, lançada em 2023, vendeu 80 mil cópias no primeiro ano. Agora, Itamar trabalha na terceira e última parte da trilogia. Apesar do sucesso, ele conta que teve dúvidas se a história despertaria interesse. “Escrevi o livro que queria escrever, mas achava que o leitor urbano talvez não se interessasse por esse enredo. Ainda bem que eu estava errado.”
Fama e responsabilidade
Com o reconhecimento, vieram as responsabilidades. Hoje, Itamar mantém vínculo não remunerado com o Incra, enquanto se dedica à literatura. “Ainda tenho minhas dúvidas, mantenho meu pé no chão”, confessa. O autor revela que se tornou mais rigoroso com sua própria escrita e que sente o peso das expectativas, tanto dos leitores quanto de si mesmo. “O próximo livro é sempre mais difícil que o primeiro.”
Mesmo com a pressão, ele se mantém fiel ao que acredita. “Não quero fazer concessões. Escrevo sobre aquilo que me pede para ser escrito. Se não me envolver, não vai envolver o leitor.” Segundo Itamar, é esse compromisso com a verdade que sustenta sua obra.
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