Mão de obra da construção civil encarece 69% em 10 anos no Brasil sob ameaça de apagão
16 de dez. de 2024
Reprodução
Nos últimos dez anos, o custo da mão de obra na construção civil no Brasil aumentou 69%, segundo o Sistema Nacional de Pesquisa de Custos e Índices da Construção Civil (Sinapi). Esse aumento reflete a dificuldade do setor, que enfrenta a ameaça de uma escassez de profissionais qualificados. Uma pesquisa realizada pela Grua Insights para o mercado revelou que 90% dos empresários da construção enfrentam dificuldades para encontrar trabalhadores. Entre os profissionais mais escassos, os pedreiros estão no topo da lista, citados por 27% dos entrevistados. Outros profissionais em falta são serventes e carpinteiros.
Como consequência dessa escassez, 70% das empresas admitiram ter adiado prazos de entrega de obras nos últimos seis meses. Esse cenário representa um obstáculo à previsão de um investimento de R$ 1,3 trilhão no setor até 2029, conforme estimativas da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC).
Renato Correia, presidente da CBIC, comentou sobre esse desafio durante um evento com empresários do setor em Minas Gerais. Ele destacou que a falta de profissionais qualificados não é um problema exclusivo da construção civil, que emprega atualmente 2,8 milhões de pessoas, segundo o IBGE. Correia também observou que há uma grande massa de trabalhadores informais e destacou a necessidade de atrair esses profissionais para o mercado formal de trabalho. Ele ressaltou que o setor é financeiramente atrativo, com o terceiro maior salário inicial do país, ficando atrás apenas do funcionalismo público e das áreas de informática e telecomunicações, conforme dados do Ministério do Trabalho. Além disso, a construção civil busca atrair os jovens, já que a pesquisa da Grua Insights aponta que a média de idade nos canteiros de obras é de 41 anos.
De acordo com Correia, o setor está se modernizando e se digitalizando, o que o torna cada vez mais atraente para os jovens, que podem hoje optar por outras profissões, como ser influenciador digital. "A construção está rapidamente se industrializando e digitalizando. Isso será muito atrativo para os jovens", afirmou.
Luiz Henrique Bombinho, proprietário de uma empresa de construção em Belo Horizonte desde 2008, também constatou que, para contratar bons profissionais, é necessário pagar mais. Ele observou que, embora seja possível encontrar mão de obra especializada, o custo tem sido elevado. Além disso, muitos trabalhadores que começaram na construção civil, seguindo a carreira de familiares, estão deixando os canteiros de obras para trabalhar em aplicativos de transporte. Bombinho alertou para a possibilidade de uma escassez de mão de obra no futuro, já que os profissionais estão envelhecendo e a velocidade de trabalho diminui.
Felipe Boaventura, vice-presidente de Relações Trabalhistas do Sindicato da Indústria da Construção Civil de Minas Gerais (Sinduscon-MG), também expressou preocupação com o cenário. Ele explicou que a falta de bons pedreiros, serventes e outros operários eleva os custos da mão de obra e impacta diretamente o valor dos imóveis. Em novembro, o custo de construção do metro quadrado no Brasil atingiu R$ 1.786,82, de acordo com o IBGE. Em Minas Gerais, o valor foi um pouco mais baixo, R$ 1.684,62, mas os preços subiram mais no estado do que na média nacional.
Boaventura observou que a escassez de trabalhadores eleva os custos das obras, seja com aumento de salários ou com o atraso no cronograma das construções. O aumento nos preços dos imóveis pode afetar o mercado imobiliário, especialmente porque a venda de novos imóveis em Belo Horizonte teve um aumento de 60% no terceiro trimestre de 2024, comparado ao mesmo período do ano anterior, conforme pesquisa da Brain Inteligência Estratégica. No entanto, ele alertou que um aumento nos preços pode levar a uma retração no mercado no médio e longo prazo, já que a população de classe média e baixa tem pouca tolerância a variações de preço.
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