Medicamentos como Ozempic podem elevar o risco de lesão renal aguda e pancreatite.
6 de fev.
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Uma pesquisa recentemente publicada, que analisou dados de cerca de 2 milhões de pessoas, identificou uma possível relação entre antagonistas de GLP-1 — classe de medicamentos que inclui Ozempic e Wegovy — e o surgimento de complicações no pâncreas e nos rins, além de problemas gastrointestinais graves. No entanto, o estudo também observou benefícios, como a melhoria das atividades cognitivas dos usuários desses medicamentos.
O estudo, publicado na revista Nature em janeiro, utilizou dados de saúde de veteranos de guerra dos Estados Unidos diagnosticados com diabetes tipo 2. Desses quase 2 milhões de indivíduos, 252 mil estavam usando antagonistas de GLP-1, medicamentos originalmente desenvolvidos para tratar diabetes, mas que também mostraram benefícios no controle de peso.
Foram analisados quatro medicamentos dessa classe: Ozempic e Wegovy, ambos da Novo Nordisk, que já estão disponíveis no Brasil; e Mounjaro e Zepbound, da Eli Lilly, com apenas o primeiro aprovado pela Anvisa para o tratamento do diabetes.
Em entrevista à Folha, a Eli Lilly reconheceu que seus medicamentos podem causar efeitos colaterais gastrointestinais, como náuseas e vômitos, além de lesão renal aguda e pancreatite. A empresa ressaltou que esses riscos são bem conhecidos pelos profissionais de saúde e afirmou estar comprometida com a vigilância e o relato contínuo de dados de segurança.
Por sua vez, a Novo Nordisk informou que apoia estudos independentes sobre seus medicamentos, mas destacou que pesquisas e iniciativas de acompanhamento de mais de 22 milhões de pacientes sugerem que seus remédios são seguros.
O estudo, no entanto, aponta que os medicamentos das duas empresas podem estar associados ao desenvolvimento de complicações, como pancreatite, problemas renais, hipotensão e distúrbios gastrointestinais.
Para chegar a essas conclusões, os pesquisadores acessaram dados de 2 milhões de veteranos de guerra com informações armazenadas em bancos de dados americanos. Esses indivíduos foram divididos entre os que usavam antagonistas de GLP-1 e os que não faziam uso desses medicamentos. A pesquisa acompanhou os participantes por mais de três anos, monitorando 175 doenças e condições de saúde.
Além dos malefícios, o estudo também encontrou benefícios para a saúde relacionados a esses medicamentos, além do tratamento de diabetes e obesidade. Entre os benefícios observados, destacam-se a redução do risco de doenças cognitivas, como demência, o combate ao consumo excessivo de álcool e melhores resultados em condições respiratórias.
Embora os resultados ainda sejam preliminares e se refiram apenas a pessoas com diabetes tipo 2, o epidemiologista clínico Ziyad Al-Aly, da WashU Medicine (Escola de Medicina da Universidade de Washington em St. Louis), um dos autores do estudo, afirmou à Folha que "não vemos razão para acreditar que os benefícios e riscos seriam diferentes para pessoas com diabetes ou sem". Ele também afirmou que, embora mais dados sejam necessários, é fundamental ficar atento aos efeitos colaterais observados. Os pesquisadores sugerem que os resultados podem ajudar a orientar a prática clínica e impulsionar futuras pesquisas.
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