MPMG promove evento com Daniela Arbex sobre luta antimanicomial e o legado do Hospital Colônia
gazetadevarginhasi
29 de mai.
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Divulgação
MPMG promove debate sobre o legado do Hospital Colônia e a luta por avanços na saúde mental.
O Ministério Público de Minas Gerais (MPMG), por meio do CAO-Saúde e do Ceaf, realizou nesta terça-feira (27/5) o evento “Holocausto Brasileiro: memórias, lutas e o futuro da saúde mental”, em alusão ao Dia Nacional da Luta Antimanicomial, celebrado em 18 de maio. O encontro teve como destaque a palestra da jornalista Daniela Arbex, autora do livro Holocausto Brasileiro, seguida da exibição do documentário homônimo, que aborda os horrores vividos no Hospital Colônia de Barbacena.
Na abertura do evento, a promotora de Justiça Giovana Carone Nucci Ferreira ressaltou a importância da memória como ferramenta de resistência: “Cada pessoa que passou pelos horrores dos antigos manicômios nos convoca a manter viva a luta pela dignidade, pelo cuidado e pela liberdade”. Ela também destacou o papel do MPMG na defesa da política antimanicomial e o fortalecimento da Rede de Atenção Psicossocial (Raps).
A assessora do CAO-Saúde, Bárbara Coelho Ferreira, leu um poema da ex-interna Sueli Aparecida Resende, internada aos 10 anos e falecida em 2006. O coordenador pedagógico do Ceaf, Leonardo Barreto, enfatizou que os antigos manicômios representam um modelo que jamais deve ser retomado, enquanto o chefe de Gabinete do MP, Francisco Generoso, reforçou a relevância de discutir saúde mental.
Durante sua palestra, Daniela Arbex revelou detalhes de sua investigação jornalística sobre o Hospital Colônia, que funcionou de 1903 até os anos 1980. Estima-se que mais de 60 mil pessoas morreram na unidade, muitas por maus-tratos, tortura, fome ou negligência. Segundo a jornalista, 70% dos internados não apresentavam qualquer transtorno mental, e 80% eram negros, pobres, mulheres vítimas de preconceito ou pessoas em situação de rua.
Daniela relatou que decidiu investigar o caso após ter acesso a fotos históricas do hospital, que a levaram a buscar sobreviventes, ex-funcionários e registros no Arquivo Público Mineiro. Uma das histórias mais marcantes, apresentada no documentário, é a de José Carlos, que descobriu que sua mãe foi internada como indigente em 1956 após ser deixada pelo marido. O próprio filho, ainda criança, acabou morando nas ruas após ser expulso de casa.
A assistente social Andreza Almeida Fernandes, por fim, compartilhou sua vivência atual com usuários dos Caps e mediou um debate entre o público e a jornalista, reafirmando a necessidade de manter viva a discussão sobre os avanços e os riscos de retrocessos nas políticas públicas de saúde mental no Brasil.
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