O aumento da procura por cuidadores de idosos no Brasil: "Fui trocar uma lâmpada e acabei ficando"
9 de dez. de 2024
Rodrigo Rafael de Camargo, de 39 anos, compartilha com carinho as memórias de Carlos, um idoso com demência que faleceu em abril aos 87 anos. "Eu sentia um amor muito grande. Não tem como explicar o que eu sentia", revela o cuidador de idosos.
Ele lembra com afeto dos momentos em que chegava à casa de Carlos e era recebido com um chamado: "Rodrigo, vem cá, você viu o que aconteceu com o controle da TV?", diz. "Eu mexia no controle, trocava as pilhas e o problema sumia, mas, na verdade, ele só queria minha companhia", conta.
O mercado de trabalho para cuidadores de idosos está crescendo de forma acelerada no Brasil, que está envelhecendo rapidamente. Segundo o IBGE, em 2070, mais de um terço da população brasileira terá 60 anos ou mais.
De 2000 a 2023, a porcentagem de pessoas acima de 60 anos na população aumentou de 8,7% para 15,6%. Além disso, a taxa de natalidade caiu, e a população do país deve começar a estagnar em 2041, o que exige soluções para o envelhecimento, como a atuação dos cuidadores.
A crescente necessidade desses profissionais já foi reconhecida em Brasília, onde, após pressão de movimentos sociais, a Câmara dos Deputados aprovou um projeto que estabelece a Política Nacional de Cuidado. Esse texto aguarda a análise no Senado e, se aprovado, poderá regulamentar a profissão de cuidador de idosos, além de possibilitar que os cuidados sejam oferecidos pelo Sistema Único de Saúde (SUS).
Rodrigo, que inicialmente trabalhava como segurança, mudou sua vida ao ser convidado por um casal de idosos, Carlos e Maria das Dores, para cuidar de seu marido, que sofria de demência e sequela de derrame. "Fui chamado para trocar uma lâmpada e acabei virando motorista, depois cuidador. Com o Seu Carlos, minha rotina era de dar os remédios e ajudar com as limitações dele", conta.
A relação de amizade se estreitou ao longo do tempo, especialmente quando Rodrigo passou a ajudar Carlos em momentos íntimos, como a higiene pessoal. "Foi uma experiência difícil no começo, mas com o tempo, se tornou mais confortável para ambos", explica.
Rodrigo é um exemplo único no universo dos cuidadores de idosos, pois a maioria desse grupo é composta por mulheres de classe baixa, com pouca formação acadêmica. Segundo o especialista Jorge Félix, esse perfil tem crescido à medida que a demanda por cuidadores supera a de empregadas domésticas.
"Com o aumento da procura por cuidadores, o salário também aumentou. Hoje, um profissional pode ganhar até três salários mínimos, e, com qualificação, o valor pode ser ainda maior", afirma o pesquisador.
Apesar da crescente demanda, Rodrigo não se interessa em fazer o curso para ser cuidador de idosos. "Já faço muito mais do que o curso exige. Eu participo de todas as atividades e vejo os desafios diários da pessoa que cuido. Não vejo necessidade de me limitar a um certificado", revela.
No entanto, especialistas alertam para os riscos de um cuidado sem a formação adequada, como lesões físicas e problemas psicológicos devido à pressão emocional. "A falta de preparo pode prejudicar tanto o profissional quanto a pessoa cuidada", explica Jorge Félix.
O trabalho de cuidador de idosos exige muito mais do que a simples realização de tarefas diárias. Envolve uma carga emocional intensa, com muitos momentos de insegurança, estresse e desafios emocionais. Afinal, como Rodrigo lembra, "Você vai demorar para voltar?" – uma pergunta que representa o vínculo profundo entre cuidador e idoso.
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