Por que o Alzheimer é mais comum em mulheres? Estudo revela pistas metabólicas
gazetadevarginhasi
9 de abr.
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A maior prevalência do Alzheimer entre as mulheres tem despertado o interesse da comunidade científica nas últimas décadas. Uma nova hipótese ganhou força com a publicação, em janeiro deste ano, de um artigo na revista britânica Molecular Psychiatry. A pesquisa, que conta com a participação de cientistas brasileiros, investigou o desempenho cognitivo e a presença de determinados compostos no sangue e no líquido cefalorraquidiano de 125 homens e mulheres do Brasil e dos Estados Unidos.
Os resultados apontam que o Alzheimer pode ser mais frequente em mulheres devido a diferenças metabólicas, especialmente envolvendo duas moléculas: carnitina e L-acetil-carnitina (LAC). Ambas estão em concentrações mais baixas no sangue de pessoas com demência, mas a queda é mais acentuada entre as mulheres, o que indica uma disfunção mitocondrial mais avançada nesse grupo.
Outro fator importante pode ser a menopausa. O estudo sugere que as alterações hormonais características desse período podem afetar o metabolismo de gorduras, reduzindo a disponibilidade de carnitina e LAC no organismo — o que comprometeria a função cerebral e aumentaria o risco de desenvolvimento do Alzheimer.
“O que vemos é uma necessidade urgente de direcionar os estudos para entender melhor essas alterações metabólicas nas mulheres, especialmente no pós-menopausa”, afirma o pesquisador Ricardo Lima-Filho, da UFRJ, coautor do estudo. “Ainda investigamos pouco como certas doenças podem afetar os sexos de maneiras distintas. No caso do Alzheimer, essas diferenças metabólicas podem ser uma das chaves.”
Reflexos da menopausa no cérebro feminino
A médica geriatra Simone de Paula Pessoa Lima, da equipe Saúde no Lar, reforça que as mudanças hormonais vividas pelas mulheres na menopausa têm impacto direto no metabolismo cerebral. “Uma das hipóteses mais consistentes é que essas alterações afetam o funcionamento das mitocôndrias — responsáveis pela produção de energia celular — e interferem na disponibilidade de substâncias fundamentais para a saúde cerebral”, explica.
Segundo a especialista, isso pode comprometer tanto a geração de energia quanto a proteção das células nervosas e a formação das conexões entre neurônios, especialmente em áreas do cérebro ligadas à memória. “Em alguns casos, essas alterações se estabilizam após a menopausa, mas nem sempre isso ocorre.”
A disfunção metabólica mais intensa nas mulheres, em comparação aos homens, pode ajudar a explicar por que o Alzheimer é cerca de duas vezes mais frequente nelas. Simone destaca ainda a importância de continuar as pesquisas e de adotar estratégias preventivas. “Alimentação adequada, acompanhamento médico e cuidados personalizados podem ser essenciais para preservar a saúde cerebral feminina ao longo do envelhecimento.”
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