Wagner Tiso recebe título de Doutor Honoris Causa da UNIFAL-MG por sua contribuição à música brasileira
gazetadevarginhasi
12 de abr.
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O pianista, compositor, arranjador e maestro mineiro Wagner Tiso será o primeiro homenageado pela Universidade Federal de Alfenas (UNIFAL-MG) em 2025, ano em que a instituição celebra duas décadas desde sua transformação de Escola de Farmácia e Odontologia (EFOA) em universidade. Reconhecido por sua expressiva contribuição à música brasileira, o artista receberá o título de Doutor Honoris Causa, aprovado por unanimidade na 372ª reunião ordinária do Conselho Universitário (Consuni), realizada em 28 de março.
A proposta foi apresentada pela Reitoria, a partir de uma sugestão do produtor cultural Ivanei Salgado, diretor de Comunicação da UNIFAL-MG. Segundo o reitor, professor Sandro Amadeu Cerveira, a indicação foi acolhida de imediato, em razão da trajetória de Tiso e de sua forte ligação com o Sul de Minas. “A conexão de Wagner Tiso com a cultura mineira e com os valores que a universidade representa é profunda. Ele é, como definiu Raymond Murray Schafer, parte essencial da ‘paisagem sonora’ que molda nossa memória musical coletiva. Essa homenagem é, antes de tudo, um reconhecimento desse papel”, explicou.
Natural de Três Pontas (MG), Wagner Tiso viveu em Alfenas nos anos 1960, antes de se mudar para Belo Horizonte, onde se tornaria um dos pilares do movimento Clube da Esquina. Em 2014, ele já havia participado das comemorações do Centenário da Universidade, reforçando os laços com a instituição e a região. “Sua atuação como difusor da música e da cultura mineira, além da proximidade com o sul de Minas, justifica plenamente essa homenagem”, completou o reitor.
A homenagem também foi celebrada por familiares. Paulo Francisco, conhecido no meio artístico como Tutuca e sobrinho de Wagner Tiso, destacou o vínculo afetivo da família com Alfenas. “Esse reconhecimento não é importante apenas pelo mérito artístico do Wagner, mas porque nossa permanência em Alfenas se deve a ele. Quando meu avô teve a oportunidade de se transferir para Lavras ou Alfenas, foi o Tio Wagner quem disse: ‘Vamos para Alfenas, tem universidade, tem música, tem vida’. E ele estava certo.”
Tutuca também lembrou que a escolha por Alfenas influenciou o início de uma trajetória histórica na música brasileira. “Bituca (Milton Nascimento) veio junto. Criaram a W’s Boys, foram para BH e nasceu o Clube da Esquina. O resto é história”, relembrou.
Para Ivanei Salgado, responsável pela sugestão de homenagem, a importância de Wagner Tiso para a música brasileira e internacional é imensurável. “Quem conhece sua obra solo e sua atuação no Clube da Esquina entende por que usei esse termo. Os shows e discos dele são memoráveis. Pude assistir à sua apresentação no Centenário da UNIFAL-MG, com Victor Biglione e Márcio Malard. Foi marcante.”
Segundo o reitor Sandro Cerveira, a homenagem também simboliza o compromisso da UNIFAL-MG com a valorização da arte e da cultura como elementos fundamentais da formação cidadã. “A honraria reconhece não apenas o talento de Wagner Tiso, mas sua relevância como agente de transformação cultural no Brasil”, afirmou.
Em mensagem ao Jornal UNIFAL-MG, Wagner Tiso agradeceu a homenagem. “Alfenas é parte da minha história pessoal, da juventude e do início da minha vida musical. É muito significativo receber esse título de uma universidade federal tão prestigiada, em um lugar com tanto valor afetivo. É também um reconhecimento do que aprendemos e transmitimos com a música ao longo da vida”, disse o maestro.
A cerimônia oficial de entrega do título será realizada em Alfenas, em data ainda a ser definida.
Com mais de seis décadas de carreira, Wagner Tiso Veiga nasceu em 1945 e começou sua trajetória na música sob influência da mãe. Sua história profissional teve início nos anos 1950, com o grupo W’s Boys, passando depois por conjuntos como Sambacana e Berimbau Trio. Na década de 1970, integrou o Som Imaginário e gravou o emblemático álbum “Matança do Porco”. Também se destacou como arranjador e compositor de trilhas sonoras para mais de 30 filmes, entre eles Os Deuses e os Mortos, Chico Rei, Jango e O Guarani.
Ao longo da carreira, colaborou com artistas como Gal Costa, Cauby Peixoto, Ney Matogrosso, Hermeto Pascoal, César Camargo Mariano e Toninho Horta. Lançou mais de 30 álbuns solo, incluindo Wagner Tiso (1977), Trem Mineiro (1980), Coração de Estudante (1985), Profissão: Música (1992), Cenas Brasileiras (2004) e Samba e Jazz (2009).
Morou e se apresentou em vários países, como Suíça, Estados Unidos, Portugal e Espanha, e teve obras executadas por orquestras nacionais e internacionais. Entre suas criações sinfônicas estão American Nights e Cenas Brasileiras. Participou de projetos como o show Saudade da Elis, com Tunai, e a turnê Uma Travessia, ao lado de Milton Nascimento.
Em 2018, fundou o Instituto Wagner Tiso, voltado para ações sociais e educativas, atuando em projetos como “Cidade dos Meninos São Vicente de Paulo” e “Projeto Valores de Minas”. Recebeu importantes prêmios, como o Troféu Villa-Lobos, distinções da Ordem dos Músicos do Brasil e reconhecimento em festivais de cinema por suas trilhas sonoras.
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