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'Minha mãe tomou Roacutan grávida e eu nasci com várias sequelas'

Eduarda Falani, de 18 anos, revela que sua mãe ingeriu medicamento que causa malformação fetal até o sexto mês de gestação


Eduarda não sobreviveria à gestação, segundo os médicos — Foto: Arquivo pessoal

A estudante Eduarda Falani, de 18 anos, é um caso raro na medicina. Sua mãe tomou, até o sexto mês da gravidez, Roacutan, um remédio para tratamento de acne grave contraindicado para gestantes, porque pode causar malformação fetal.

"Eu fui um milagre de Deus. A medicina não explica como eu sobrevivi", afirma a estudante. Quando começou a ingerir o medicamento, sua mãe foi avisada de que não poderia engravidar. Uma das condições para receber a prescrição da droga era o resultado negativo do Beta HCG, um exame marcador de gravidez.

A mãe repetiu o teste algumas vezes durante o tratamento com Roacutan e o resultado vinha negativo, mesmo estando grávida, até que um exame deu positivo. “Muitos médicos sugeriram que ela interrompesse a gestação, porque, teoricamente, eu não seria compatível com a vida”, conta a estudante.

Sua mãe parou de tomar o remédio, mas decidiu levar a gravidez adiante. Eduarda nasceu de cesárea sem nenhuma deformidade física, exceto o estrabismo, mais tarde corrigido com uma cirurgia. Já no parto, porém, os médicos perceberam que havia algo errado com o bebê.

Sequelas do uso de Roacutan na gravidez


“Eu só mexia os olhos e o pescoço e recebi alta três dias depois que nasci. Os médicos disseram que não podiam fazer nada e que a morte seria inevitável na minha situação”, relembra.

Eduarda, no entanto, cresceu e se desenvolveu. Ela foi diagnosticada com paralisia no cerebelo, área do cérebro que controla várias atividades do corpo, entre elas as atividades motoras. Com fisioterapia, aos poucos, a jovem recuperou os movimentos. Por recomendação médica, passou a praticar esportes, para não perder a mobilidade que conquistou.

Com o tempo, a estudante descobriu outras sequelas decorrentes do uso do Roacutan durante a gravidez de sua mãe. Entre elas estão frouxidão ligamentar e hiperextensão — Eduarda tem os membros mais alongados do que a média das pessoas — e ausência de cartilagem no corpo, que contribuem para dores crônicas e limitações em atividades físicas.

Segundo a estudante, outras condições causadas pelo consumo do fármaco foram: laringomalácia — sua traqueia é flácida e a coloca em risco constante de engasgamento, especialmente durante as refeições — e sopro no coração.

Eduarda nasceu ainda com astigmatismo, miopia e hipermetropia. “Por causa de todas as deficiências juntas, tive atraso no desenvolvimento cognitivo”, diz ela.

Seus maiores desafios hoje, no entanto, resultam da narcolepsia — um distúrbio que causa sonolência excessiva — e, como consequência dela, a cataplexia — relaxamento profundo dos músculos durante o sono. Eduarda toma remédios para essas condições e faz exames regularmente para monitorar sua condição.

Eduarda viralizou no TikTok com um vídeo sobre a sua história — Foto: Arquivo pessoal

Para alertar outras pessoas sobre os riscos do uso do Roacutan durante a gravidez, Eduarda fez um post no TikTok que já tem mais de 1,7 milhão de visualizações.

Como o Roacutan deve ser utilizado


O Roacutan é um remédio à base de isotretinoína, uma substância derivada da vitamina A. Ele é utilizado para tratamento de acne grave e está associado à diminuição da atividade e à redução do tamanho das glândulas produtoras de sebo.

A bula informa que o medicamento não deve ser utilizado por mulheres grávidas ou que possam ficar grávidas durante o tratamento. Segundo a dermatologista Elisete Crocco, coordenadora do departamento de Cosmiatria da Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD), o fármaco é associado a malformações fetais e pode causar sequelas que incluem perda auditiva, além de danos no cérebro e nos membros do feto.

“Muitos estudos experimentais mostram efeitos adversos que podem acontecer com uma grávida tomando Roacutan, por isso os médicos são neuróticos com isso”, diz.

O procedimento para iniciar o tratamento com Roacutan é rigoroso. Antes de comprar o medicamento, os pacientes devem assinar um termo que detalha os possíveis eventos adversos, desde boca ressecada até alterações de humor.

Esse termo também reforça a importância de não engravidar durante o tratamento, exigindo que a paciente esteja utilizando dois métodos contraceptivos eficazes — um hormonal e outro de barreira, como a camisinha. “A gente entra com anticoncepcional até em pacientes adolescentes que não tenham iniciado a vida sexual”, aponta a dermatologista.

A prática de realizar o Beta HCG mensalmente não é mais uma norma. “Estudos indicam que o custo para o sistema de saúde de realizar esses exames regularmente é alto em comparação com o impacto real na segurança do paciente”, diz a médica.

Quanto ao período entre o fim do tratamento com Roacutan e a tentativa de gravidez, Elisete Crocco recomenda aguardar dois meses por garantia, embora em um mês o medicamento já não circule mais no organismo.

No universo dos tratamentos para acne considerados seguros durante a gravidez, a dermatologista destaca os cremes, além de probióticos e suplementos alimentares com ação seborreguladora.

Remédios que não podem ser usados durante a gravidez


Além do Roacutan, outros medicamentos e tratamentos podem representar riscos durante a gravidez. O Botox, por exemplo, carece de evidências científicas que garantam sua segurança durante a gestação. Embora relatos não indiquem problemas em gestações não planejadas, a comunidade médica prefere evitar intervenções sem evidências sólidas.

Durante a gravidez, procedimentos como lasers são desencorajados não apenas pela possível interferência com o feto, mas também devido à imunossupressão natural do organismo da gestante, tornando a pele mais propensa a hiperpigmentação e lesões.

“Medicamentos tópicos, como derivados de retinoides, hidroquinona e ácido salicílico, também são desaconselhados durante a gestação. Por via oral quase tudo é proibido. A gente só prescreve aquilo que já tem muito tempo de mercado e segurança de uso”, afirma a dermatologista.

Elisete Crocco aponta que, apesar de várias substâncias serem proibidas, existem tratamentos tópicos seguros para gestantes: “É possível levar uma gestação saudável e a pessoa se sentir bonita ao mesmo tempo”.

FONTE: Marie Claire

Gazeta de Varginha

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