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Acidentes com motos aceleram em 2023 e devem ultrapassar 2022


Foto: Carolina Miranda


“Está sendo difícil pra gente principalmente porque ele sempre foi muito descontraído, conversava com todo mundo, ria o tempo todo. Sentimos falta das brincadeiras, do carinho”. É assim que Ryan Lucas, de 17 anos, resume o sentimento da família depois da morte do pai dele, o barbeiro e pastor Keliston Breno, de 35, vítima de um acidente na BR-381, em Betim, na região metropolitana de Belo Horizonte, no início deste mês. O patriarca pilotava uma moto quando se chocou com uma carreta, caiu na pista e acabou sendo atropelado pelo veículo de carga.

O caso, que comoveu a cidade – Keliston era muito conhecido e querido, tendo sido homenageado inclusive pelo poeta Fabrício Carpinejar, cliente antigo do barbeiro –, engrossa as estatísticas de acidentes de trânsito envolvendo motocicletas. No primeiro semestre de 2023, 368 vítimas desse tipo de ocorrência deram entrada no Hospital Público Regional de Betim (HPRB), mais da metade do que foi registrado em todo o ano passado: 645. A tendência de crescimento também é observada no Hospital João XXIII, em Belo Horizonte, referência nacional em tratamentos de politraumatismos. De 1° de janeiro a 16 de julho, foram registrados 2.947 atendimentos a motociclistas e/ou garupas, 62,5% do total de 2022: 4.715. Já no trecho betinense da BR-381, ocorreram 220 sinistros com motos nos seis primeiros meses deste ano, pouco menos da metade do que a Arteris Fernão Dias, concessionária que administra a via, contabilizou no último ano: 467.

“Todo acidente de trânsito em rodovia ou via expressa favorece que o paciente apresente uma condição clínica delicada, com trauma maior, principalmente nas malhas viárias em que a velocidade máxima permitida passa dos 80 km/h”, destaca a secretária de Saúde de Betim, Patrícia Evangelista. Segundo ela, nesses casos, os hospitais de médio e grande portes são a referência de atendimento em razão das especialidades médicas e dos equipamentos disponíveis. O HPRB, por exemplo, funciona de portas abertas tanto para a população local quanto para a de municípios vizinhos que não contam com esse tipo de serviço. A unidade de saúde é credenciada pelo Estado para essa finalidade e recebe repasses de outras prefeituras por meio da Programação Pactuada e Integrada (PPI). “Para além disso, recebemos pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS) de outros Estados que se acidentam na nossa malha viária, e, nesses casos, o município tem que arcar com os custos do primeiro atendimento que é dado a eles”, pontua.

SITUAÇÃO DAS VÍTIMAS
O cirurgião de trauma do Hospital João XXIII Leonardo Schiess afirma que é comum os motociclistas acidentados chegarem ao pronto-socorro com contusões, escoriações, fraturas fechadas e expostas (consideradas mais graves), sobretudo em membros superiores e inferiores. “O tempo de internação está associado ao tipo de lesão, podendo variar de uma semana a meses. Quando se tem um traumatismo cranioencefálico associado, por exemplo, a tendência é aumentar muito a permanência do paciente no hospital”, ressalta o médico.

De acordo com Schiess, dois fatores perceptíveis parecem justificar o aumento do número de acidentes com motos nos últimos anos: o crescimento desenfreado dos serviços de entrega de comida, principalmente depois da pandemia, e, mais recentemente, o transporte por aplicativo. “Esse é um evento novo que estamos observando, e, em vez de chegar um paciente, agora chegam dois”, diz o cirurgião, referindo-se ao piloto e ao garupa da moto.

Segundo Patrícia Evangelista, o município também já percebe o efeito desses fatores. “Como os motociclistas trabalham por produtividade, para ter uma renda mais digna, andam muito rapidamente. Isso tem sido um desafio”, conclui a gestora.

CONDUTA INADEQUADA ACENDE ALERTA
Também no início deste mês, o músico Ranierley Henrique, de 33 anos, foi mais uma vítima de acidente com moto na BR-381, em Betim. De acordo com o boletim de ocorrência, ele foi derrubado por um veículo que evadiu do local, e, enquanto estava se levantando, acabou sendo atropelado por um reboque que não conseguiu desviar a tempo. Segundo a ex-mulher de Ranierley, Sthéfani Luizi, uma unidade de resgate da Arteris Fernão Dias passava pelo local no momento e prestou os primeiros socorros ao músico, que sofreu múltiplas fraturas.

“Grande parte dos acidentes envolvendo motociclistas ocorre no perímetro urbano, e, muitas vezes, por imprudência, negligência ou imperícia”, pontua o gerente de operações da concessionária, Edivaldo Braga, ressaltando que a maioria das ocorrências dessa natureza resulta em morte ou lesões graves.
Somente neste mês, ao menos três motociclistas morreram no trecho da BR-381 que corta o município. Em todos os casos, havia um veículo pesado envolvido no acidente.

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