Consumo racional
Repercutiu em todo o país a propaganda de uma grande loja que sugeria o uso do FGTS para a compra dos ovos de Páscoa. Virou piada em show de humor, memes na internet e notícia nos telejornais. Assusta pensar que alguém tenha achado lícito fazer uma sugestão dessas em rede nacional. Mais ainda imaginar quantas pessoas, talvez, tenham acatado tal ideia.
Desde que foi criado em 1966, o fundo de garantia tem sido usado para proteger o trabalhador demitido e para realizar sonhos: da casa própria, do casamento, de uma vida mais tranquila na aposentadoria. Recentemente, na tentativa de melhorar a vida financeira do assalariado, foi “fatiado”, nascendo o saque aniversário. Embora vivamos em um país livre, onde todos podem fazer o que bem entendem com o dinheiro que lhes cabe, passar de casa própria a ovo de Páscoa é um retrocesso insensato.
A grande questão, lógico, não é o ovo de Páscoa em si. Nem o FGTS. É pensar em como banalizamos o dinheiro e deixamos de avaliar racionalmente as prioridades e o resultado do consumo. O mundo moderno, feito de zilhões de propagandas por minuto, confunde nossa mente e prejudica o discernimento sobre onde vale a pena colocar nosso suado dinheirinho. E pior, está criando uma geração de consumistas automatizados.
O consumidor tem poder. É ele quem diz o que é importante, o que vale a pena comprar. Quantos produtos foram deixados de lado porque não “pegaram”? Mas essa lógica vem sendo invertida há anos e nós, consumidores, somos manipulados por um capitalismo sem ética. Uma boa parte do marketing atual parece ter se especializado em convencer as pessoas a comprarem coisas que não precisam por um preço que não podem pagar.
O consumo desenfreado e sem método é um dos piores problemas do nosso planeta. Consumimos desesperadamente, sem avaliar onde isso vai parar. Sem nos preocuparmos em fazer as seis perguntas primordiais para um consumo responsável:
1 – Por quê? - Preciso realmente comprar ou estou agindo por impulso, levado pelo marketing ou para me sentir parte de um grupo?
2 – O que? - Quais as opções disponíveis para atender melhor minha necessidade sem causar desperdício ou impacto ao planeta?
3 – Como? - Meu dinheiro é suficiente para comprar? Se parcelar vou atrapalhar outras despesas? O frete é viável? Posso buscar na loja e evitar custos e embalagens extras?
4 – De quem? - Posso comprar de comerciante local em vez de multinacionais? A empresa que fabrica respeita os funcionários e o meio ambiente? Não usa mão de obra infantil nem análoga à escravidão?
5 – Como vou usar? - O produto tem durabilidade, para não precisar ser trocado frequentemente? Pode ser consertado em caso de problemas? Seus componentes fazem mal à saúde ou ao meio ambiente? Desperdiça recursos naturais em minha casa, como água ou energia?
6 – Como é o descarte? - Ao término de sua vida útil, como devo descartar o produto? E a embalagem, é reciclável ou compostável?
Embora não seja fácil seguir esse roteiro, o que conseguirmos, a cada consumo, já contribui para nossa saúde do corpo e financeira e para o cuidado com o mundo em que vivemos. Voltando aos ovos, que tal ano que vem comprar de acordo com o orçamento, de produtores artesanais da cidade e usando embalagens recicláveis?
* Luciane Madrid Cesar
Artigo gentilmente cedido pela autora a título de colaboração com a Agenda 21 Local.
Engº Civil Alencar de Souza Filgueiras
Presidente do Fórum da Agenda 21 Local
Presidente do Conselho Fiscal do IBAPE/MG
Contato: evolucao@uai.com.br
Comments