Hospital de PPP exclui pronto-socorro e deixa indefinidas 3 mil urgências infantis por mês em BH
Elisa Ribeiro
13 de out.
2 min de leitura
Fonte: itatiaia
A cada 15 minutos, uma criança dá entrada no Pronto Atendimento do Hospital Infantil João Paulo II, na região Centro-Sul de Belo Horizonte. O serviço, referência no atendimento pediátrico pelo SUS há mais de 40 anos, pode deixar de existir com a criação do Complexo de Saúde Hospitalar Padre Eustáquio (HoPE), que será construído por meio de uma Parceria Público-Privada (PPP).
Com investimento bilionário e previsão de conclusão para 2029, o HoPE promete ser o hospital mais moderno do estado, com mais de 60 consultórios especializados e foco em alta complexidade. No entanto, o novo complexo não contará com pronto-socorro pediátrico, o que colocará fim ao maior pronto atendimento infantil do SUS em Minas Gerais, responsável por cerca de 3 mil atendimentos mensais.
De acordo com o governo estadual, o atendimento infantil no HoPE será feito por meio da regulação do SUS — ou seja, com encaminhamentos vindos de outras unidades, como as UPAs. A Secretaria de Estado de Saúde reconhece que ainda não há uma definição sobre como será suprida a ausência do pronto-socorro, mas afirma que o diálogo com a Prefeitura de Belo Horizonte será feito “no momento oportuno”.
O secretário de Estado de Saúde, Fábio Baccheretti, garantiu que a população não ficará sem atendimento. “O complexo HoPE deve ficar pronto em 2029, ainda demora muito. O pronto atendimento do João Paulo II está na região Central, e nós vamos garantir um atendimento lá. Podemos tranquilizar a população de que o atendimento não será reduzido”, disse.
A Prefeitura de Belo Horizonte, no entanto, afirma que não tem condições de assumir novos serviços hospitalares, como os atualmente oferecidos pelo João Paulo II. Em ofício enviado à Câmara Municipal, o secretário de Saúde Danilo Borges Matias e a subsecretária Raquel Felisardo Rosa afirmaram que “qualquer mudança que restrinja serviços de saúde impactará diretamente a assistência aos pacientes da rede SUS-BH”.
Especialistas alertam que o fechamento do pronto-socorro sem um plano estruturado pode gerar desassistência. A professora da Faculdade de Medicina da UFMG, Alzira Jorge, destaca que “a resolutividade de um pronto-socorro dentro de um hospital é muito maior do que a de uma UPA, especialmente por se tratar de uma unidade de referência estadual”.
Profissionais da unidade também demonstram preocupação. A técnica de enfermagem Ana Paula Ferreira, que atua no João Paulo II, teme aumento no tempo de espera e risco de mortes. “A ausência desse serviço sobrecarregaria as UPAs, que não são especializadas para casos complexos. Sabemos que a demora no atendimento de uma criança pode ser fatal”, alerta.
Atualmente, o atendimento pediátrico de urgência em Belo Horizonte é feito nas UPAs das regionais Barreiro, Leste, Oeste, Venda Nova, Pampulha, Norte e Nordeste, além do Hospital Metropolitano Odilon Behrens. Na região Centro-Sul, onde está o João Paulo II, não há unidade municipal com pronto atendimento pediátrico.
A Fundação Hospitalar do Estado de Minas Gerais (Fhemig) informou que o Estado “garantirá os atendimentos à população durante a transição para o Complexo HoPE”, assegurando diálogo entre governo e prefeitura para evitar desassistência.
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