Bets geram prejuízo bilionário e elevam casos de depressão e endividamento, diz pesquisa

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Apostas online e jogos de azar geram prejuízo anual de R$ 38,8 bilhões ao Brasil, aponta estudo.

Um estudo inédito divulgado nesta terça-feira (2) estima que as apostas online e os jogos de azar — especialmente as chamadas bets — provocam perdas econômicas e sociais que chegam a R$ 38,8 bilhões por ano no Brasil. O montante considera impactos como depressão, suicídio, endividamento, desemprego, gastos com saúde e afastamentos do trabalho.

A pesquisa, intitulada A saúde dos brasileiros em jogo, foi produzida pelo Instituto de Estudos para Políticas de Saúde (Ieps), pela Umane e pela Frente Parlamentar Mista para Promoção da Saúde Mental (FPSM), que reúne quase 200 parlamentares.

Segundo o levantamento, quase 17,7 milhões de brasileiros realizaram apostas em apenas seis meses, e cerca de 12,8 milhões estão em situação de risco de desenvolver transtorno do jogo.

Dimensão das perdas

Baseado em metodologia utilizada no Reino Unido, o estudo projeta os seguintes custos anuais para o Brasil:

• R$ 17 bilhões – mortes adicionais por suicídio

• R$ 10,4 bilhões – perda de qualidade de vida com depressão

• R$ 3 bilhões – tratamentos médicos para depressão

• R$ 2,1 bilhões – gastos com seguro-desemprego

• R$ 4,7 bilhões – custos com encarceramento devido a crimes relacionados

• R$ 1,3 bilhão – perda de moradia

Do total, 78,8% (R$ 30,6 bilhões) estão ligados diretamente à saúde.

O documento destaca que a expansão das apostas online — impulsionada por tecnologia, publicidade massiva e ausência de políticas públicas — tem agravado quadros de sofrimento mental e endividamento familiar.

Retorno financeiro é insuficiente

Apesar do tamanho do mercado, os valores arrecadados com a atividade ainda são considerados baixos. De janeiro a setembro, o governo federal arrecadou R$ 6,8 bilhões com tributos sobre apostas; em outubro, o acumulado chegou a quase R$ 8 bilhões. A projeção anual é de R$ 12 bilhões — número bem distante dos R$ 38,8 bilhões em prejuízos estimados.

As bets são tributadas atualmente em 12% sobre a receita bruta, e os apostadores pagam 15% de Imposto de Renda sobre prêmios. O Senado discute o Projeto de Lei 5473/2025, que pode elevar a alíquota para 24%.

O estudo critica que apenas 1% do valor arrecadado chega ao Ministério da Saúde — cerca de R$ 33 milhões até agosto — sem destinação específica para a Rede de Atenção Psicossocial (Raps).

Baixo impacto econômico e alto índice de informalidade

O setor emprega apenas 1.144 trabalhadores formais, segundo o Ministério do Trabalho, número considerado “irrisório”.Cada trabalhador gera cerca de R$ 3 milhões por mês em receita para as empresas, mas recebe somente 0,34% desse valor como salário.

Além disso, 84% dos profissionais ligados ao setor não contribuíram para a Previdência em 2024.

Medidas internacionais e sugestões para o Brasil

O estudo apresenta propostas já adotadas no Reino Unido, como autoexclusão de contas, restrição severa de publicidade e destinação de 50% da arrecadação para tratamento em saúde mental.

Para o Brasil, os pesquisadores sugerem:

• aumentar a fatia da arrecadação destinada à saúde;

• capacitar profissionais do SUS no manejo do transtorno do jogo;

• proibir propagandas e promover campanhas de conscientização;

• restringir o acesso, especialmente para menores e grupos de risco;

• implementar regras rígidas de fiscalização e retorno financeiro ao país.

Reação do setor

O Instituto Brasileiro de Jogo Responsável (IBJR), que reúne 75% do mercado legal de apostas, afirma que o aumento de impostos pode impulsionar a clandestinidade. Segundo a entidade, mais de 51% das apostas online no Brasil já operam fora da legalidade.

Fonte: AgBrasil