Se considerar apenas os acidentes e incidentes de maior gravidade, são 65 casos nos últimos 3 anos. O equivalente a uma situação a cada 17 dias, levando em conta que se passaram 1.165 dias no total. Segundo informações do Cenipa, os números se referem à quantidade de queixas geradas no sistema. Ou seja, em alguns casos, um mesmo acidente pode ser notificado mais uma vez. A estatística, no entanto, é usada como referência para se calcular a incidência de problemas no setor em todo o país.
O ano com maior número de ocorrências de acidentes foi em 2021, com 18 registros. Em novembro daquele ano, por exemplo, morreu a cantora Marília Mendonça e outras quatro pessoas que estavam prestes a pousarem no aeroporto de Caratinga. A aeronave se chocou contra uma linha de transmissão, perdeu altitude e caiu em uma cachoeira. Outros dois acidentes naquele ano terminaram com óbitos, sendo um no aeroporto da Pampulha, em Belo Horizonte, e outro na cidade de João Pinheiro. Nesse último caso, tratava-se de um avião em uso agrícola que perdeu o controle e caiu.
Já no ano passado foram registrados 12 acidentes de avião no Estado, sendo dois deles com óbitos. Um foi em Brasilândia de Minas, também no segmento agrícola, e outro em São Romão, na categoria particular, também chamada de executiva na aviação.
No ano de 2020, foram 21 ocorrências entre incidentes graves e acidentes com aeronaves em Minas Gerais. Desse número, quatro foram no aeródromo Carlos Prates, em Belo Horizonte, mesmo local onde ocorreu o acidente com vítima no último sábado (11).
Para o especialista Wagner Cláudio Teixeira, piloto com mais de 30 anos de experiência na aviação, advogado e primeiro secretário da Comissão de Direito Aeronáutico da OAB-MG, os números de incidentes e acidentes em Minas Gerais estão dentro de uma relativa normalidade. Porém, ressalta o especialista, quando eles ocorrem em um espaço tão curto de tempo, geram uma preocupação maior na população.
“O importante é ter uma separação do que é a operação de táxi aéreo e do que é executiva. A primeira sofre auditoria da Anac, a segunda não. Isso é um problema que temos de falta de fiscalização, onde essa segurança está mais na mão do próprio proprietário”, ponderou. Ele explica que se uma pessoa deseja iniciar uma empresa de táxi aéreo, há um processo de certificação bastante criterioso junto à Agência Nacional de Aviação Civil (Anac). Esse processo tem várias etapas e todas exigem uma série de providências a serem cumpridas para a liberação da empresa. Uma dessas exigências é a apresentação dos nomes dos responsáveis por cada área, como piloto-chefe, diretor de operações, chefes de manutenção e de segurança.
“Esse quadro de pessoas é que vai conduzir com segurança as operações. São elas também que vão baixar diretrizes, esse é o diferencial. Isso existe porque o táxi aéreo vende serviço, ele atua comercialmente, então precisa oferecer segurança para as pessoas que buscam esse serviço. Por isso, a Anac faz a fiscalização buscando a qualidade. A aviação executiva é diferente porque serve ao seu próprio proprietário. Então não há processo criterioso e fica a cargo dos pilotos e proprietários a manutenção e a segurança”, disse.
Uma forma de minimizar esses problemas, segundo o especialista, é uma melhor análise do risco. Atualmente, as empresas possuem programas de gerenciamento da segurança operacional e esses programas preveem a análise de perigos e os riscos associados a esses perigos. “Então, preventivamente, você identifica quais são os perigos, depois você atua para minimizá-los, enquadra esse levantamento em uma matriz de tolerância e você então adota as medidas que cada caso requer”, detalhou.
Para Teixeira, um problema a ser enfrentado é a má condição da infraestrutura de aeródromos por Minas Gerais. “Muitas vezes são precários. São aeródromos que não têm a operação noturna, outros com o tamanho da pista curto para determinadas aeronaves operarem em segurança. Enfim, uma série de deficiências na infraestrutura que dificulta as operações, mas aí cabe ao piloto que está operando verificar todas essas condições e decidir se vai ou não para essa pista, mas não deixa de ser um problema”, pontuou. Em relação ao Aeródromo do Carlos Prates, o piloto afirmou que pela localização e pelas aeronaves que operam por lá, o local “é um risco constante não só para os operadores, mas também para a vizinhança”.
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