Onças-pintadas do Norte de Minas são monitoradas por projeto viabilizado pelo MPMG
gazetadevarginhasi
18 de out.
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Divulgação
Iniciativa busca entender comportamento da espécie, ameaças e propor corredores ecológicos para garantir a preservação no Cerrado.
Ameaçadas pelo desmatamento e pela caça, as onças-pintadas e pretas que vivem no Cerrado do Norte de Minas Gerais estão sendo monitoradas desde meados de 2024 pelo projeto “Onças – Guardiãs do Grande Sertão Veredas”, desenvolvido pela organização não governamental Onçafari e viabilizado pelo Ministério Público de Minas Gerais (MPMG), com recursos obtidos por medidas compensatórias e apoio do Semente, núcleo do MPMG voltado ao incentivo de projetos sociais e ambientais.
O objetivo é entender o comportamento, o deslocamento e as ameaças às onças para propor corredores ecológicos de mata nativa que permitam a circulação e a reprodução livre da espécie. “As onças-pintadas e pretas, que são a mesma espécie, precisam de áreas imensas para sobreviver. Ao compreender o ambiente e o comportamento desses animais, estamos ajudando a proteger não apenas as onças, mas todo o ecossistema do Cerrado”, explica o biólogo Eduardo Fragoso, coordenador do projeto.
Segundo ele, as onças são consideradas uma “espécie guarda-chuva”, por protegerem, indiretamente, diversas outras formas de vida que compartilham o mesmo habitat.
Nas redes sociais do Onçafari, a equipe reforça essa importância:
“Muito mais do que um símbolo da nossa fauna, a onça é uma verdadeira guardiã das florestas. No topo da cadeia alimentar, ela controla populações de outras espécies, ajudando a manter o equilíbrio ecológico e a saúde dos ecossistemas. Quando protegemos a onça, protegemos também vastas áreas de floresta, seus rios, seu clima e toda a biodiversidade que depende desse ambiente.”
Monitoramento em 93 mil hectares de Cerrado
O acompanhamento das onças ocorre por meio de armadilhas fotográficas instaladas em uma área de 93 mil hectares do lado mineiro do Parque Nacional Grande Sertão Veredas — o equivalente a três vezes o tamanho de Belo Horizonte. O parque, que se estende também por parte da Bahia, possui 230 mil hectares no total.
As câmeras disparam automaticamente fotos e vídeos quando detectam movimento. A equipe que atua na área mineira é formada por dois biólogos e dois assistentes de pesquisa, que já identificaram 27 onças-pintadas, sendo seis com pelagem preta (melânicas) — uma das maiores proporções do mundo.
Apesar da coloração escura, elas pertencem à mesma espécie das onças-pintadas. “As pintas estão sob a pelagem negra, invisíveis a olho nu”, explica Fragoso.
Na quinta fase do projeto, concluída recentemente, foram divulgadas imagens captadas pelas armadilhas, incluindo o registro inédito de trigêmeos filhotes de uma onça-pintada acompanhada desde 2019.
Desmatamento e isolamento genético
Uma das principais conclusões do projeto é que as onças se mantêm restritas às áreas de Cerrado nativo, evitando lavouras e pastagens. O desmatamento tem provocado o isolamento populacional desses animais, confinando-os em áreas cada vez menores.
“Pelas imagens de satélite, vemos o Cerrado se transformando em ilhas cercadas por pastos e plantações. Esse isolamento genético leva ao cruzamento entre indivíduos aparentados, o que causa doenças e compromete a reprodução”, alerta Fragoso.
A criação de corredores ecológicos é, portanto, essencial para conectar fragmentos de vegetação e permitir o fluxo genético entre populações, fortalecendo a sobrevivência da espécie.
Caça e conflitos com comunidades
Outro fator de risco é a ação de caçadores, que matam tanto onças quanto as presas naturais dos felinos. Sem alimento suficiente, os animais podem atacar criações rurais, como o gado, gerando conflitos com moradores.
Para compreender melhor essa relação, os pesquisadores estão aplicando questionários em comunidades tradicionais próximas ao parque. Em um ano, cerca de 80 entrevistas foram realizadas — e a meta é alcançar 100. As respostas orientarão ações de educação ambiental e convivência sustentável com a fauna local.
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