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Alerta Digital por Stenio Santo Sousa - 16/06/2023

  • gazetadevarginhasi
  • 16 de jun. de 2023
  • 4 min de leitura

Criptoativos: dinheiro digital e o submundo da fraude


Um dos maiores mistérios da era digital surge quando um, então, desconhecido Satoshi Nakamoto compartilha o “white paper” intitulado “Bitcoin: A Peer-to-Peer Electronic Cash System” na lista de discussão “The Cryptography Mailing List”. Era o dia 31 de outubro de 2008 e o referido documento transformou em definitivo o ambiente financeiro mundial ao descrever o funcionamento do que seria um sistema de dinheiro digital em rede ponto-a-ponto, denominado Bitcoin.
Alguns esclarecimentos preliminares ao nosso leitor mais leigo. Uma rede é chamada de ponto-a-ponto (ou peer-to-peer) quando permite a conexão direta entre máquinas que utilizam o mesmo protocolo. É descentralizada pois cada computador representa um “nó” em uma grande teia de computadores, que funcionam simultaneamente como cliente ou servidor, o que permite o compartilhamento direto de informações, recursos e arquivos, sem a necessidade de uma autoridade central.
A primeira e mais famosa moeda digital é assim anunciada em seu sítio oficial: “Bitcoin utiliza a tecnologia peer-to-peer para operar sem uma autoridade central ou bancos; a gestão de transações e a emissão de bitcoins são realizadas coletivamente pela rede. Bitcoin é feito em código aberto; seu design é público, ninguém possui ou controla o Bitcoin e todos podem participar” (bitcoin.org).
O funcionamento do Bitcoin pressupõe o conceito de “blockchain”, uma cadeia de blocos criptografados que registra de forma automática qualquer negociação realizada na rede. A validação do registro, porém, depende dos usuários, denominados “mineradores”, que emprestam poder computacional em troca de unidades da criptomoeda, o que garante a segurança e autonomia do sistema. O blockchain pode ser comparado a um cartório de registros de notas, sem o risco de interferência humana.
Para adquirir criptomoedas, o interessado precisa realizar o cadastro em uma Exchange (plataforma de negociação online) e usar o dinheiro real que possui. As moedas eletrônicas são, assim, armazenadas em carteiras digitais (wallets), que podem ser acessadas pela internet para a realização de seus negócios, a exemplo do que ocorre com instituições financeiras ou com a bolsa de valores, todavia com uma maior sensação de anonimato.
Embora o anonimato seja aparente - lembre-se que tudo fica registrado de forma pública no blockchain -, as transações são associadas a endereços de carteiras (cadeias de caracteres alfanuméricos), em vez de nomes de pessoas reais, o que torna o processo de identificação um pouco mais complexo.
A facilidade que o sistema Bitcoin inaugurou em 2009 como meio de troca virtual de forma descentralizada e autônoma, promoveu um verdadeiro boom no mercado e impactou o mundo inteiro, criando uma nova economia. Há atualmente uma infinidade de criptoativos entre moedas virtuais, com destaque ao Bitcoin, Ethereum, Litecoin e Ripple, tokens de utilidade, de segurança, de governança e não-fungíveis (NFTs).
Entretanto, a mesma descentralização e anonimato que faz com que usuários legítimos criem criptoativos e tenham interesse em realizar investimentos digitais, também atraem o que H. Becker (Outsiders: estudos de sociologia do desvio, 2009), denominou “outsiders”, dentre eles, fraudadores, que se aproveitam da grande quantidade de pessoas leigas e das dificuldades de rastreamento de transações com criptomoedas.
São exemplos de fraudes, os esquemas de pirâmide e Ponzi, quando há uma promessa irreal de retornos financeiros rápidos e muito acima da média de mercado, os quais costuma ser sustentados pelo dinheiro de novos investidores. O esquema desmorona assim que novos investimentos deixam de entrar, o que leva os fraudadores a desaparecerem com o que conseguiram arrecadar.
Em face do anonimato, também é bastante comum que criminosos peçam pagamentos em criptoativos para desbloqueio de arquivos de computador, feito por meio de ransomware, tema de artigo publicado nesta coluna no mês de maio.
Outro alvo de interesse é a senha de carteiras de criptomoedas (wallets), o que pode ser feito, dentre outras formas, por meio do envio de mensagens ou e-mails com informações falsas e links para infecção de máquinas, ataque conhecido como phishing.
Apesar disso, é importante que se saiba que existem ferramentas e técnicas avançadas de análise de blockchain que já estão sendo utilizadas por empresas de segurança cibernéticas, investigadores e agências governamentais para rastrear transações de criptomoedas e apurar atividades suspeitas ou ilícitas. Por meio dessa análise, é possível identificar padrões de transações, rastrear fluxos de criptoativos e até, potencialmente, vincular carteiras de criptomoedas a indivíduos específicos. Apesar do nível de anonimato que as criptomoedas podem proporcionar, as ações na rede raramente são completamente invisíveis.
Exemplo recente é a operação Criptocard, da Polícia Federal, que identificou suspeitos de fraudes em cartões de crédito para compra de R$19 milhões em criptomoedas na famosa exchange Binance, conforme noticiado no sítio Cointelegraph, em 06 de junho de 2023.
Em síntese, uma transação financeira não é mais segura por estar sendo feita de casa ou do banco. Neste mundo pós-moderno, é muito importante que usuários de criptomoedas sejam demasiado cautelosos. Antes de investir, pesquisar profundamente sobre as plataformas e evitar ofertas que pareçam boas demais para ser verdade.
Alguns cuidados: manter dispositivos informáticos protegidos, atualizados e nunca compartilhar informações sensíveis; armazenar criptomoedas em carteiras de hardware oferece um nível de segurança superior ao armazenamento em plataformas online; priorizar o mecanismo de autenticação de dois fatores.
Lembre-se de que, embora as criptomoedas apresentem-se como uma nova e emocionante fronteira financeira, permanecer alerta e proteger seus investimentos pode ser a tábua de salvação para livrar-se de fraudadores (e alguns vírus), que sempre podem estar à espreita.



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Gazeta de Varginha

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