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Barreirinho, em Caldas, Torna-se a Primeira Comunidade Quilombola do Sul de Minas

Com a Certificação Quilombola, Comunidade de Barreirinho Conquista Novos Direitos e Esperança

Moradores da comunidade do Barreirinho, em Caldas, no Sul de Minas Gerais, carregam com orgulho a história de resistência e luta de seus antepassados. Pela primeira vez, o governo federal reconheceu oficialmente essa comunidade como quilombola. A felicidade e o orgulho de Rosângela e Ana Paula têm uma explicação: foram elas as responsáveis por iniciar a batalha para que Barreirinho obtivesse esse reconhecimento. A ideia surgiu no ambiente escolar, onde ambas trabalham.

"Começamos junto com o Instituto Palmares a buscar a certificação para a comunidade, que até então não existia. A comunidade era praticamente isolada aqui no município. Com a documentação e o apoio do prefeito da época, conseguimos dar o primeiro passo", conta Ana Paula de Oliveira, vice-diretora da escola local.

Após esse início, diversos agentes políticos e institucionais se uniram para concretizar o processo. Agora, mais de dez anos depois, a comunidade de Barreirinho foi oficialmente reconhecida como quilombola, um título que representa um povo descendente de africanos escravizados que preserva até hoje suas tradições culturais, religiosas e de subsistência.

"A partir deste reconhecimento, a comunidade passa a ter acesso a direitos garantidos por lei, como saúde, assistência social e outros benefícios públicos. Agora, estamos organizando esse trabalho em conjunto com os moradores, para atender às suas necessidades e anseios", explicou Marina Rosa, ativista socioambiental. "Embora ainda faltem médicos e algumas infraestruturas, acredito que, com a certificação, as coisas vão melhorar, e estamos felizes com essa conquista. Vamos continuar trabalhando por mais melhorias", acrescentou a professora Rozângela Godinho.

Na comunidade, que conta com sete casas e vinte moradores, encontramos Marcineia, neta de escravizados, que vive no Barreirinho desde sempre. Além de trabalhar na lavoura, ela também faz salgados e sabonetes artesanais para vender.

"Já trabalhei aqui por um ovo por dia. Hoje, as coisas são diferentes. Conseguimos ajuda, fizemos amigos. Já passamos muita fome", relatou Marcineia, que também expressou sua esperança com o reconhecimento quilombola. "Eu espero que, com essa conquista, possamos superar as dificuldades, como a falta de médicos e recursos. Quem sabe com isso, a situação melhore, e a fome acabe", disse ela.

A história da comunidade do Barreirinho também virou um documentário. Duas produtoras culturais de Caldas se encantaram com a trajetória dos moradores e decidiram registrar essa história em vídeo. O documentário, intitulado Colcha de Retalhos, foi lançado recentemente e está sendo apresentado para estudantes da cidade durante a semana da Consciência Negra.

Marcineia é uma das protagonistas do filme, que foi produzido por meio da Lei Paulo Gustavo de Incentivo à Cultura. "A produção celebra a vida e a cultura do povo de Barreirinho, preservando os saberes ancestrais até hoje. A comunidade agora é a primeira do Sul de Minas a receber o reconhecimento quilombola. Isso é fruto de muita luta e é uma vitória para o povo", comentou Talita do Lago Anunciação, produtora do documentário.

O reconhecimento quilombola e o lançamento do documentário são iniciativas que trazem visibilidade à comunidade, que por décadas lutou por seus direitos e ainda tem muito a conquistar. "O reconhecimento traz acesso a direitos fundamentais, como saúde, educação, organização econômica e produção. Mais do que isso, é o reconhecimento de uma história que contribuiu muito para o município", disse Daniel Tygel, presidente da Câmara de Vereadores de Caldas.

"Agora, com o reconhecimento, temos a chance de conquistar nosso espaço. Existem lugares onde somos bem recebidos, mas também há lugares onde não somos", disse Marcineia. "A nossa área é uma das mais pobres da região, e muitas vezes dependemos do Cras para nos alimentar. Mas eu tenho fé de que isso vai mudar. Se Deus quiser, vai melhorar", completou ela.

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