Você sabia que até o século XIX as pessoas tinham pouquíssimas roupas no armário? Era uma época em que tudo era artesanal e demorava para ser feito. Foi com a Revolução Industrial que o hábito de ter mais itens de consumo surgiu, já que acelerou os processos de produção e a circulação de bens. Muito antes dessa época, havia a vinculação do consumo a poder, já que é preciso poder econômico para comprar cada vez mais.
Mas consumo e consumismo é a mesma coisa? Não. Consumo está ligado a necessidade, a sobrevivência. Já o consumismo tem a ver com o supérfluo, aquilo que a pessoa não precisa. O consumismo causa estragos no bolso, no meio ambiente e em nossa saúde mental.
Estamos vivendo a era do exagero. Para onde quer que olhemos, vemos ofertas difíceis de resistir para que compremos coisas das quais não precisamos.
A propaganda se utiliza do apelo aos nossos sentimentos (gatilhos emocionais) para nos induzir a pensar que aquele produto é necessário para vivermos melhor. Ela explora nossa necessidade de pertencimento quando cria a ideia de que todos já têm aquele produto. Cutuca nossa necessidade de bem-estar quando nos mostra a vida mais bonita que teremos ao adquirir tal objeto. Flerta com a ascensão de status proporcionada por artigos mais modernos ou de melhor desempenho. Até quando recebemos algo de graça, estamos sendo preparados para as próximas compras, porque somos direcionados para cadastros que colocam nosso contato em listas de envio de mais propaganda.
O sociólogo e filósofo polonês Zygmunt Bauman, em seu livro “Vida para consumo”, diz que, na sociedade atual, o consumo determina as nossas relações sociais e a nossa identidade. Ou seja, estamos contando a nossa história e mostrando quem somos (ou quem queremos ser) através do que consumimos.
Segundo pesquisa do SPC Brasil, 71% dos brasileiros já fez compras não planejadas e por impulso, e 72% já se arrependeu do que comprou.
E o Natal está chegando, época em que o consumo atinge os maiores picos do ano. Seria bom começarmos a pensar sobre o necessário e o supérfluo. Identificar o que compramos só porque os outros têm ou porque achamos que seremos melhores se tivermos. Será que não há outras formas de nos sentirmos mais felizes?
Além da sugestão do livro, acima, você pode refletir sobre o tema assistindo os filmes “Amor por contrato” (The joneses) de Derrick Borte; “Wall-E” (infantil - Pixar); “Os Delírios de Consumo de Becky Bloom”, de P.J.Hogan, baseado no livro de mesmo nome; e “Clube da luta” de David Fincher. E os documentários “Crianças, a alma do negócio”, de Estela Renner; “Obsolescência Programada (A conspiração da lâmpada)” de Cosima Dannoritzer; “A história das coisas” de Erica Priggen; e “O verdadeiro custo” de Andrew Morgan.
* Luciane Madrid Cesar
Artigo gentilmente cedido pela autora a título de colaboração com a Agenda 21 Local.
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