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Coluna Alerta Digital - 12/10/2023


Ataques Cibernéticos envolvendo Drones e seus impactos na Segurança e Defesa Cibernética

Uma série de mortes misteriosas e brutais dão o tom do sexto episódio da terceira temporada de “Black Mirror”, “Hated in the Nation” (Brooker, 2016). Na trama, a solução para a extinção das abelhas são suas versões robóticas, chamadas “ADIs” (Autonomous Drone Insects), que passam a ser utilizadas no Reino Unido para polinizar flores. O desenrolar da história revela, porém, que após serem hackeados, os dispositivos tecnológicos passam a ser controlados remotamente e utilizados de forma anônima para cometer homicídios contra vítimas selecionadas.

Drones, em essência, são veículos aéreos não tripulados (VANTs) controlados remotamente e dispõem de diversas aplicações, que vão desde fotografia aérea e entrega de pacotes até monitoramento agrícola e missões de busca e resgate, sem esquecer, é claro, de seu uso recreativo.

Apesar de ainda não estar disponível a tecnologia capaz de controlar abelhas robóticas com toda aquela precisão tipicamente cinematográfica, causa espécie o avanço da tecnologia dos drones nos últimos anos.

Microdrones, aliás, já são uma realidade, têm potencial em áreas como vigilância, civil ou militar, e pesquisa biológica, e alguns são até mesmo projetados para se parecerem com insetos, tanto em tamanho quanto em aparência ((Biggs, 2021; Dvorsky, 2016; Yuge, 2018). Essa versatilidade é, quiçá, uma das principais causas do crescimento exponencial de sua popularidade.

Conforme informações colhidas do Sistema de Aeronaves Não-Tripuladas (SISANT) da ANAC, o Brasil possui atualmente 93.729 drones registrados (Santos, 2022), o que equivale a um crescimento de 11,3% desses equipamentos entre 2020 e 2021 no Brasil (Papo raiz, 2022).
Apesar de sua evidenciada utilidade, os drones também representam potenciais ameaças à privacidade e à segurança. Uma vez que se trata de um equipamento controlado remotamente, pode utilizar dispositivos capazes de interceptar sinais de wifi, bluetooth ou RFID (Kaspersky, 2023), o que amplia a capacidade de alguns ataques cibernéticos.

Uma vez que um hacker assuma o controle de um drone, tem potencial de alterar sua rota, interceptar as imagens ou vídeos que está transmitindo. Drones também podem ser usados pelo crime organizado, seja para entregar drogas e celulares em prisões ou até para roubar dados na nuvem computacional.

Com o equipamento adequadamente acoplado, podem ser usados para hackear e controlar outros sistemas, similarmente ao que ocorre com redes zumbis.
Exemplo marcante ocorreu em 2018, no aeroporto de Gatwick, em Londres, quando drones não identificados sobrevoaram o local e causaram interrupções massivas nos voos, prejudicando milhares de passageiros e expondo internacionalmente as vulnerabilidades de segurança associadas a esses dispositivos (Faulconbridge, G., & Smout, A., 2018).

Em outro incidente, em fevereiro de 2019, foi relatado que drones militares dos EUA teriam sido hackeados pelo Irã ao sobrevoaream a Síria e o Iraque (Iniseg, 2019). Os riscos para a segurança nacional ou para a defesa cibernética associados ao uso de drones em operações militares restam bastante evidentes.

Imagine o que um hacker poderia fazer ao controlar remotamente um drone militar espião ou com capacidade de lançar mísseis, como o MQ-9 Reaper? Segundo a BBC News Mundo (2018), informações desse VANT, considerado o mais letal drone do planeta, com custo aproximado de 16 milhões de dólares, teriam sido divulgadas por hackers na deep web em 2018.

No Brasil, o uso de drones está regulado em vários normativos, a iniciar pelo Código Brasileiro de Aeronáutica (CBA), Lei nº 7565, de 1986. Segue ainda as diretrizes do Departamento de Controle do Espaço Aéreo (DECEA) da Força Aérea Brasileira, através do ICA 100-40, MCA 56-2 e MCA 56-5. Além disso, está disciplinado pelo Regulamento Brasileiro de Aviação Civil Especial nº 94/2017 (RBAC-E nº 94/2017), da ANAC.

Por força do princípio da legalidade estrita, no entanto, a proteção do espaço aéreo nacional contra uso ilícito de drones é feita pelo Código Penal Brasileiro. O artigo 261, por exemplo, considera como crime a exposição de aeronaves a perigo, enquanto o artigo 266 aborda a interrupção ou perturbação de serviços de telecomunicações ou telemáticos.

A ameaça que os drones representam para a cibersegurança é real e crescente, não há dúvidas. Segundo a Kaspersky (2023), exemplos de hackeamento incluem falsificação de GPS, interceptação de sinais e até mesmo o uso de um drone para hackear outro.

O conhecimento destas capacidades e o planejamento adequado de como neutralizá-las é medida que se impõe à segurança pública no desiderato de sua missão preventiva em resposta a ataques cibernéticos envolvendo tais equipamentos. A capacidade de detectar, rastrear e neutralizar drones maliciosos é essencial para proteger infraestruturas críticas e garantir a segurança do espaço aéreo.

Como cediço a segurança pública é direito e responsabilidade de todos. Nesse sentido, importante ressaltar o papel dos proprietários de drones como elemento fundamental para que as ações públicas sejam efetivas.

Medidas proativas de proteção desses equipamentos comercializados devem ser observadas, por empresas e usuários, do mesmo modo como sói ocorrer com qualquer dispositivo informático. Dentre elas, destacam-se a necessidade de atualizar regularmente o firmware, usar senhas fortes e garantir que as comunicações sejam criptografadas.

Não há dúvida de que toda evolução tecnológica traz consigo desafios emergentes. A tecnologia de geofencing, por exemplo, que cria barreiras virtuais para restringir onde os drones podem voar, é ferramenta valiosa para evitar determinados ataques cibernéticos contra tais equipamentos, mas que não resolve os problemas de maneira isolada.

O fato é que hackers habilidosos já encontraram maneiras de contornar muitas dessas barreiras, o que implica necessidade de permanente atenção por parte das empresas e fabricantes de drones, que devem zelar pela segurança dos dispositivos comercializados.

Naturalmente, o poder público deve atuar não apenas na regulação, mas também fazer sua parte no processo de informação e de educação dos usuários, sejam pessoas físicas, jurídicas ou dos próprios entes governamentais, sobre os riscos associados ao uso de drones.

O fato é que a ameaça dos drones ao espaço aéreo e às infraestruturas críticas não pode ser ignorada e precisa entrar no radar o quanto antes, uma vez que a sua solução não é simples e depende de um esforço permanente, contínuo e coordenado de todos.



Fontes consultadas:

Brooker, C. (Roteirista). (2016). Hated in the Nation (Temporada 3, Episódio 6). Em C. Brooker (Produtor executivo), Black Mirror. Zeppotron; Netflix.

Dvorsky, G. (2016, 22 de maio). Este é o menor drone robô capaz de pousar em superfícies. Gizmodo. https://gizmodo.uol.com.br/menor-drone-robo-pousar-superficies/

Faulconbridge, G., & Smout, A. (2018, 21 de dezembro). Aeroporto de Gatwick reabre após caos provocado por drones. Reuters. https://www.reuters.com/article/reinounido-gatwick-drones-idLTKCN1OK17B

Kaspersky (2023). Drones y seguridad — Todo lo que necesitas saber. https://www.kaspersky.es/resource-center/threats/can-drones-be-hacked

Santos, E. (2022, 15 de agosto). Drones: Uma realidade no Brasil. Agência Força Aérea. https://www.fab.mil.br/noticias/mostra/39523/ESPA%C3% 87O%20A%C3%89REO%20-%20Drones:%20Uma%20realidade%20no%20Brasil

Yuge, C. (2018, 16 de maio). Novo robô-inseto consegue voar sem fio e é alimentado por laser. TecMundo. https://www.tecmundo.com.br/ciencia/130323-novo-robo-inseto-consegue-voar-fio-alimentado-laser.htm

BBC News Mundo. (2018, 12 de julho). Cómo es el MQ-9 Reaper, el dron más letal y más usado por el ejército de Estados Unidos cuya información se compartió en la “internet profunda”. BBC News Mundo. https://www.bbc.com/mundo/noticias-44813793

Iniseg. (2019, 2 de outubro). Atentados de hacker a drones de seguridad. Iniseg Blog. https://www.iniseg.es/blog/ciberseguridad/atentados-de-hacker-a-drones-de-seguridad/

Biggs, J. (2021, 7 de março). Este drone minúsculo com asas de inseto foi criado para invadir ambientes pequenos. Gizmodo. https://gizmodo.uol.com.br/drone-pequeno-asas-inseto/

Papo Raiz. (2022, 2 de setembro). Mercado de drones: conheça o setor que dobra de tamanho a cada ano. Gazeta do Povo. https://www. gazetadopovo. com.br/gazz-conecta/papo-raiz/mercado-de-drones-conheca-setor-dobra-de-tamanho-cada-ano/


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