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Opinião com Luiz Fernando Alfredo - 20/12/2025

  • gazetadevarginhasi
  • hĆ” 3 horas
  • 3 min de leitura
Por Luiz Fernando Alfredo
Por Luiz Fernando Alfredo

O dogma darwinista e a coragem que falta Ć  ciĆŖncia


HĆ” um paradoxo incĆ“modo no coração da ciĆŖncia moderna: exige-se ceticismo absoluto para tudo — menos para Darwin. No sĆ©culo XIX, sem conhecer genes, cromossomos, mutaƧƵes, DNA, proteĆ­nas, origem molecular da vida ou qualquer ferramenta experimental digna do nome, Charles Darwin lanƧou uma hipótese engenhosa sobre como as espĆ©cies mudam ao longo do tempo. O mĆ©rito histórico Ć© inegĆ”vel. O problema Ć© o que veio depois: a canonização.
Hoje, o darwinismo ocupa na academia um lugar que seria constrangedor se nĆ£o fosse tĆ£o conveniente. NĆ£o existe curso de medicina, biologia ou farmĆ”cia que nĆ£o o trate como dogma fundador, mesmo que boa parte da estrutura original de Darwin seja cientificamente anacrĆ“nica. A Ćŗnica parte consistentemente validada — a seleção natural — virou muleta para sustentar todo o resto de um edifĆ­cio teórico que simplesmente nĆ£o acompanha o sĆ©culo XXI.
A verdade mal confessada é simples: a academia não tem outro modelo completo. E como não tem, cala. Silencia. Aceita o velho arcabouço darwinista não por convicção profunda, mas por pragmatismo institucional. Questionar o pedestal de Darwin não rende carreira; rende problemas.
Isso explica por que nomes gigantes da ciĆŖncia — e nada simpĆ”ticos ao obscurantismo — foram ignorados ou minimizados quando ousaram tocar no ponto fraco. Karl Popper, um dos mais lĆŗcidos filósofos da ciĆŖncia, alertou que o darwinismo, no formato original, parecia mais uma ā€œmetafĆ­sica Ćŗtilā€ do que uma teoria rigorosamente testĆ”vel. Francis Crick, pai do DNA, achava estatisticamente ridĆ­cula a origem espontĆ¢nea das primeiras molĆ©culas da vida. Fred Hoyle foi irĆ“nico ao extremo ao comparar esse processo a um tornado montando um Boeing em um ferro-velho. Michael Polanyi expĆ“s que a vida contĆ©m nĆ­veis de informação que escapam Ć  mecĆ¢nica cega do darwinismo. Werner Heisenberg rejeitava o reducionismo mecanicista que ainda contamina certas leituras evolutivas.
Nenhum deles era devoto religioso. Eram cientistas que sabiam reconhecer limites — algo que a biologia evolutiva institucional parece incapaz de fazer.
Ɖ aqui que a comparação com Stephen Hawking se torna inevitĆ”vel. Quando suas teorias encostaram no muro do inexplicĆ”vel, ele admitiu: talvez faltem leis fĆ­sicas ainda desconhecidas. Essa humildade intelectual deveria ser inspiradora. Mas se a fĆ­sica pode admitir o mistĆ©rio, a biologia parece preferir a liturgia.
O silĆŖncio da academia nĆ£o se deve a Darwin. Deve-se ao vazio que surgiria se seu nome fosse tirado do altar. E ciĆŖncia nenhuma prospera apoiada em Ć­dolos — apenas em evidĆŖncias. Talvez tenha chegado a hora de a biologia fazer o que ensina: evoluir. Evoluir intelectualmente. Evoluir ā€œmetodologicamente"
Evoluir para além da reverência automÔtica a um naturalista genial, mas limitado pelo tempo em que viveu.
Enquanto isso nĆ£o acontecer, continuaremos ensinando o sĆ©culo XIX com equipamentos do sĆ©culo XXI — uma contradição que a própria ciĆŖncia deveria ser a primeira a denunciar.
E nĆ£o Ć© só a academia que se curva: atĆ© o Vaticano mudou sua rota. O Papa Francisco, que seria o candidato ideal a defensor da literalidade bĆ­blica, preferiu alinhar o discurso da Igreja com a ciĆŖncia moderna. Surpreendentemente — e sintomaticamente — rejeitou a criação literal como narrativa cientĆ­fica e afirmou que evolução e fĆ© nĆ£o se contradizem. Para muitos, isso soa como abertura intelectual; para outros, como pragmatismo polĆ­tico – outros papas e pais da igreja, tambĆ©m tiveram opiniƵes semelhantes.
Somos curiosos, pesquisamos sempre àquilo que nos enseja dúvidas, entretanto, ousamos raciocinar agarrados com a nossa fé, expondo nossos argumentos retóricos, ainda que divergentes da elite científica.

Gazeta de Varginha

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