Ozempic, Mounjaro e Wegovy alteram reação ao álcool e reduzem vontade de beber, aponta novo estudo
- gazetadevarginhasi
- 16 de out.
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Um novo estudo da Virginia Tech, publicado na revista Scientific Reports, sugere que os medicamentos à base de semaglutida e liraglutida — conhecidos comercialmente como Ozempic e Wegovy — podem ajudar a reduzir o consumo de álcool.
A pesquisa, conduzida por cientistas do Instituto de Pesquisa Biomédica Fralin, observou que pessoas em uso dessas substâncias apresentaram absorção mais lenta do álcool e menor sensação de embriaguez após ingerir a mesma quantidade de bebida alcoólica.
O que o estudo descobriu
Os pesquisadores recrutaram 20 participantes com obesidade (IMC acima de 30), sendo metade em uso contínuo de agonistas de GLP-1 e metade sem uso. Todos receberam uma dose padronizada de álcool suficiente para atingir cerca de 0,08% de concentração no ar expirado — o equivalente a um copo de vinho ou uma dose de uísque.
Mesmo consumindo a mesma quantidade, o aumento do álcool no sangue foi mais lento entre os participantes que tomavam semaglutida, tirzepatida ou liraglutida. Eles também relataram sentir-se menos bêbados, segundo escalas de autopercepção aplicadas durante a hora seguinte à ingestão.
“Medicamentos de ação mais rápida têm maior potencial de abuso. Se os GLP-1s retardam a entrada do álcool na corrente sanguínea, podem reduzir seus efeitos e ajudar as pessoas a beber menos”, explicou Alex DiFeliceantonio, professora da Virginia Tech e uma das autoras do trabalho.
Como isso pode funcionar
Os agonistas de GLP-1 — classe que inclui Ozempic e Wegovy — atuam retardando o esvaziamento gástrico, o que faz com que o álcool seja absorvido de forma mais gradual. Isso altera o pico de embriaguez e pode mudar a forma como o cérebro responde ao consumo.
Atualmente, medicamentos como naltrexona e acamprosato, usados no tratamento do alcoolismo, agem diretamente no sistema nervoso central. A possível ação dos GLP-1s abriria, portanto, um novo caminho terapêutico.
“Nossos dados preliminares sugerem que os GLP-1 suprimem a ingestão de álcool por um mecanismo diferente”, acrescentou DiFeliceantonio.
Como o experimento foi conduzido
Antes da ingestão alcoólica, os participantes passaram por jejum controlado e receberam uma barra de cereal padronizada. Após beberem, foram monitorados por quatro horas, com medições de pressão arterial, glicemia, pulso e teor alcoólico no ar expirado.
Durante o processo, os voluntários responderam perguntas sobre paladar, desejo por bebida e sensação de embriaguez, incluindo a que deu nome ao estudo: “Quão bêbado você se sente agora?” Em todas as rodadas, o grupo em uso de GLP-1 relatou níveis menores de intoxicação.
Uma descoberta com origem curiosa
A ideia do estudo surgiu após os cientistas observarem relatos em redes sociais de pessoas que disseram ter perdido a vontade de beber ao iniciar o uso dos medicamentos para diabetes e obesidade.
O projeto foi liderado por Warren Bickel, especialista em comportamento e dependência química, que morreu em 2024. A primeira autora do artigo, Fatima Quddos, dedicou o trabalho à memória do orientador.
“Ele sempre perguntava: ‘Como podemos ajudar as pessoas mais rapidamente?’”, relembrou Alex. “Usar um medicamento já aprovado e seguro pode ser uma forma ágil de oferecer ajuda a quem quer parar de beber.”
O que isso significa — e o que ainda falta saber
Embora o estudo tenha envolvido um grupo pequeno de voluntários, os resultados abrem caminho para novas pesquisas sobre o uso de agonistas de GLP-1 no tratamento do alcoolismo.
Nos Estados Unidos, o álcool é consumido por mais da metade da população adulta, e 1 em cada 10 pessoas sofre com transtorno por uso de álcool.No Brasil, segundo o Datafolha (maio de 2025), 20% dos adultos afirmam beber uma ou duas vezes por semana.
O que são os medicamentos GLP-1
Significado: GLP-1 é a sigla para glucagon-like peptide 1, um hormônio que regula a glicose e o apetite.
Principais marcas: Ozempic, Wegovy, Mounjaro.
Usos principais: controle da diabetes tipo 2 e tratamento da obesidade.
Como agem: retardam o esvaziamento do estômago e reduzem a fome.
Efeitos observados: perda de peso, melhor controle glicêmico e, agora, possível redução do consumo de álcool.






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