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Opinião com Luiz Fernando Alfredo - 28/10/2025

  • gazetadevarginhasi
  • há 1 dia
  • 3 min de leitura
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Reprodução


O dinheiro público não tem dono — e é justamente por isso que o tratam como se tivesse

Se o dinheiro público fosse gasto com o mesmo zelo com que o cidadão cuida do próprio salário, o Brasil seria outro país. O problema é que, no poder, muitos esquecem essa lógica elementar: o dinheiro não cai do céu — ele vem do bolso de quem trabalha.

No entanto, a cultura política nacional parece mover-se pelo princípio oposto: quanto mais distante do bolso do contribuinte, mais fácil é desperdiçar. O que deveria ser um ato de gestão vira espetáculo; o que deveria ser dever vira autopromoção; o que deveria ser serviço vira poder.

Há, no coração do Estado brasileiro, uma doença antiga: o personalismo, herança de séculos de patrimonialismo. O administrador público, ao assumir um cargo, deveria entender-se como servidor — mas muitos passam a se comportar como donos da entidade. Mudam logotipos, pintam prédios com as cores do partido, carimbam obras com o próprio nome, como se o dinheiro fosse deles. E não é.

O que passa na cabeça desses gestores? Talvez a ideia de que o cargo é um trampolim para a fama, não um espaço de responsabilidade. Enquanto o cidadão mede o sucesso pelo que economiza, o político medíocre mede pelo que gasta — e pelo quanto aparece. A obra pública torna-se vitrine, e o povo, figurante.

O resultado é perverso: a política se torna marketing, o marketing vira escudo, e a gestão desaparece. O bom administrador, aquele que serve sem se promover, é visto como exceção, quase como ingênuo num sistema viciado.

Mas é preciso reafirmar o óbvio: o dinheiro público não é de ninguém — e, justamente por isso, é de todos. Quem o administra deve fazê-lo com rigor ético, com a mesma responsabilidade de quem cuida do pão da própria mesa.

No dia em que os gestores públicos gastarem o dinheiro coletivo como se fosse o seu próprio — e não o contrário —, talvez o Brasil finalmente se reconheça como uma República, e não como o feudo de alguns iluminados pela vaidade.

A ética nunca foi o forte do sistema político brasileiro — e disso ninguém duvida. Mas o que assusta é o quanto nos acostumamos com a desordem moral que domina a vida pública. Entre escândalos e discursos vazios, o país parece ter perdido o senso do que é decência, mérito e responsabilidade.

É hora de resgatar o que o Brasil esqueceu: a educação moral e cívica. Aquela que ensinava, nas escolas, o respeito à pátria, o valor da palavra e o dever com o bem comum. Não se trata de nostalgia, mas de sobrevivência institucional. Um país que não educa para a ética está condenado à corrupção como destino e à incompetência como rotina.

Mas não basta cobrar das novas gerações. É preciso cobrar também de quem busca o poder. Por isso, defendemos a criação de um curso obrigatório de formação e avaliação, com duração mínima de seis meses, para qualquer cidadão que deseje disputar um cargo público. Um verdadeiro vestibular da moral e da gestão pública.

Nesse período, os aspirantes deveriam estudar princípios de administração, finanças públicas, ética, legislação e comportamento institucional. Ao final, seriam submetidos a uma prova nacional de mérito. Só quem for aprovado poderia se candidatar. Simples assim. Afinal, se o cidadão precisa comprovar qualificação para dirigir um ônibus, por que qualquer um pode “dirigir” um país?

A medida pode soar radical, mas é apenas o óbvio: o Brasil não pode continuar sendo governado por maioria de analfabetos funcionais, oportunistas e marqueteiros de ocasião. A política precisa deixar de ser um refúgio para quem vive de slogans e passar a ser o espaço de quem vive de ideias e resultados. Nota: “analfabeto funcional” e “pessoas sem estudos completos” não são a mesma coisa, embora os conceitos possam se sobrepor em algumas situações. A diferença está na capacidade de interpretação e aplicação do conhecimento, e não apenas na falta de um diploma. 

Moral e Cívica nas escolas. Formação obrigatória para políticos. Ética como critério de mérito. São pilares de uma nova República — aquela que sonha com servidores públicos, e não com senhores feudais do erário.

Enquanto continuarmos tratando o poder como palco e não como missão, o Brasil seguirá sendo um país grande apenas no discurso e pequeno na consciência.
Será que somos sonhadores? Talvez! “A quem muito é dado, muito será exigido” – Lucas: 12:48 – a cobrança poderá ser astronômica!

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